segunda-feira, 27 de julho de 2015

XXXV Concurso de Trovas da Academia de Trovas do RN - ATRN (Resultado Final)

Nacional
Tema:  Anoitecer
VENCEDORES:
1º Lugar
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP
2º Lugar
Gerson Silvestre Alencar Gonçalves
Belo Horizonte/MG
3º Lugar
Sônia Maria Ditzel Martelo
Ponta Grossa/PR
4º Lugar
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ
5º Lugar
Mercedes Lisboa Sutilo
Santos/SP
6º Lugar
Roberto Nini 
Mogi Guaçu/SP
7º Lugar
Austregésilo de Miranda Alves
Senhor do Bonfim/BA
8º Lugar
Jose Ouverney
Pindamonhangaba/SP
9º Lugar
Carolina Ramos
Santos/SP
10º Lugar
Edmar  Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ
11º Lugar
Campos Sales
São Paulo/SP
12º Lugar
Sandro Pereira Rebel
Niterói/RJ
13º Lugar
Jose Gilberto Gaspar
São Bernardo do Campo/SP
14º Lugar
Antonio Colavite Filho
Santos/SP
15º Lugar
Matusalém Dias de Moura
Vitória/ES
COMISSÃO JULGADORA:
Professor Garcia
Fabiano Magalhães Wanderley
Coordenador:
José Lucas de Barros
*******************************
Estadual
Tema: Relíquia
VENCEDORES:
1º  Lugar
Mara Melini
Caicó/RN
2º  Lugar
Mara Melini
Caicó/RN
3º Lugar
José Lucas de Barros
Natal/RN
4º Lugar
Eva Ianny Garcia
Caicó/RN
5º Lugar
Professor Maia
Caicó/RN
MENÇÕES HONROSAS
6º Lugar
José Lucas de Barros
Natal/RN
7º Lugar
Professor Garcia
Caicó/RN
8º Lugar
Professor Garcia
Caicó/RN
9º Lugar
Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti
Natal/RN
10º Lugar
Heder Rubens Silveira e Souza
Natal/RN
MENÇÕES ESPECIAIS
11º Lugar
Lucélia Santos
Caicó/RN
12º Lugar
Hélio Pedro Souza
Natal/RN
13º Lugar
Manoel Cavalcanti
Pau dos Ferros/RN
14º Lugar

Manoel Cavalcanti

Pau dos Ferros/RN
15º Lugar
Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti
Natal/RN
COMISSÃO JULGADORA:
Lisete Johnson
Milton Souza
Coordenador:
Flávio Stefani
********************************
Sócio Correspondente
Tema:  Brinquedo
VENCEDORES:
1º Lugar
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ
2º Lugar
Therezinha Dieguez Brizola
São Paulo/SP
3º Lugar
José Ouverney
Pindamonhangaba/SP
4º Lugar
Angélica Villela Santos
Taubaté/SP
5º Lugar
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ
6º Lugar
José Valdez Moura
Pindamonhangaba/SP
7º Lugar
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG
8º Lugar
Delcy Canalles
Porto Alegre/RS
9º Lugar
Antônio Colavite Filho
Santos/SP
10º Lugar
Eliana Ruiz Jimenez
Balneário Camboriú/SC
11º Lugar
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG
12º Lugar
A. A. de Assis
Maringá/PR
13º Lugar
Antônio Colavite
Santos/SP
14º Lugar
A. A. de Assis
Maringá/PR
15º Lugar
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP
COMISSÃO JULGADORA:
Mara Melini
Professor Garcia
Fabiano Magalhães Wanderley
Coordenador:
Hélio Pedro de Souza
*************************
Sócios Efetivos
Tema: Ladeira
VENCEDORES:
1º Lugar
Manoel Cavalcante de S. Castro
Pau dos Ferros/RN
2º Lugar
Hélio Pedro Souza
Natal/RN
3º Lugar
Manoel Cavalcante de S. Castro
Pau dos Ferros/RN
4º Lugar
José Lucas de Barros
Natal/RN
5º Lugar
Professor Garcia
Caicó/RN
6º Lugar
Professor Garcia
Caicó/RN
7º Lugar
Antonio Fernandes do Rego
Natal/RN
8º Lugar
Mara Melinni Garcia
Caicó/RN
9º Lugar
Mara Melinni Garcia
Caicó/RN
10º Lugar
Mário Lúcio Barbosa Cavalcanti
Natal/RN
11º Lugar
Hélio Pedro Souza
Natal/RN
12º lugar
Antonio Fernandes do Rego
Natal/RN
13º Lugar
Fabiano Magalhães Wanderley
Natal/RN
14º Lugar
Eva Yanni Garcia
Caicó/RN
15º Lugar
José Lucas de Barros
Natal/RN
COMISSÃO JULGADORA:
 Gislaine Canalles
Arlindo Tadeu Hagen
José Ouverney
Edmar Japiassu Maia
Coordenador:
 Milton Souza
Agradecimentos aos coordenadores e julgadores e parabéns a todos os classificados

domingo, 26 de julho de 2015

Trovadores de Taubaté

O firmamento é infinito,
nosso céu é cor de anil!
É o que há de mais bonito
cobrindo o nosso Brasil!
Amélia Marques Pereira
No hospital, vovó proclama,
diante da enfermeira pasma:
— Tirei o lençol da cama,
para brincar de fantasma!
Angelica Villela Santos
Muitas vezes fico mudo,
sentindo dentro esta mágoa:
– que a água é que lava tudo
e todos sujam a água.
D. Antonio Affonso de Miranda - Bispo de Taubaté
De minha vida modesta
eu me envaideço e me orgulho!
- Comer pão duro é uma festa
a quem comeu pedregulho…
Araífe David
Meu amor, muito contente,
deu-me a notícia na cama:
– “mamãe vem morar co’a gente!”.
Desabei. Sentiu o drama?
Argemira Fernandes Marcondes
Quem plantou na mocidade,
com certeza vai colher
na sua melhor idade
os frutos que merecer.
Augusto Gomes
Borboleta colorida,
que voas campos sem fim,
foi Deus que te deu a vida
para seres linda assim!…
Auri Alves Mangueira
Eu sou velho e tão cansado
pelo esforço em dura lida;
mas, meu papel tenho honrado
no teatro dessa vida.
Benedicto Nunes de Assis
Um beijo tem mil sabores,
daqueles de enlouquecer!
Para fazer mil amores,
tu não podes me esquecer…
Bertha Beznosai
Taubaté, cidade-luz,
a todos tu dás morada.
O teu acolher traduz
para o que foste criada!
Cacilda Pinto da Silva
Dando hoje, com devoção,
minha aula derradeira,
eu sinto a mesma emoção,
como se fosse a primeira!
Cesídio Ambroggi
Meu sabiá carinhoso,
sempre alegrando o jardim,
no seu cantar, tão formoso,
parece cantar pra mim…
Elisa Mariana Cembraneli
Toda criança sadia
cultiva boas ideias,
revela muita alegria,
como abelhas em colmeias.
Esther Leite da Gama
Saudade! Um ai prolongado
do coração que, a chorar,
vive a evocar um passado
que a gente nem quer lembrar...
João Dias Monteiro
Se quem perdeu a eleição
chora o leite derramado,
quem ganhou solta rojão
pelo emprego conquistado!
José Pantaleão
Água pura e cristalina
a correr buscando o mar,
no trajeto tem a sina
de muita sede matar.
Judite Oliveira
A saudade é dolorosa
e dói de fazer chorar.
É como espinho de rosa,
que faz o dedo sangrar!
Judith Mazella de Moura
Taubaté, tua memória
enalteço com louvor...
Das Bandeiras: toda a glória;
dos teus filhos: todo o amor!
Luiz Antonio Cardoso
Gota d'água numa teia,
pelo orvalho pendurada,
é joia que se incendeia
no colo da madrugada.
Lygia Therezinha Fumagalli Ambrogi
Muita vez na tempestade,
entre chuva de granizo,
o sol da felicidade
rebrilha à luz de um sorriso.
Maria de Lourdes Pereira Quintanilha
Jacareí! A emoção
me faz ficar incontida.
Vi nos trilhos da estação
minha infância refletida!
Maria Marlene N. T. Pinto
O céu, azul, em desmaio...
Noivas... trabalho... Maria...
Acontece o mês de maio,
brotam flores de alegria!
Maria Martha Cardoso
Daquela paixão antiga
resta, agora, só saudade,
como uma velha cantiga
que perdeu a identidade!
Maria Nilza F. Guimarães
Eu via um filme engraçado
com meu vizinho, na cama.
Meu bem chegou adiantado
e a comédia virou drama!
Maria Teresinha Marcondes de Andrade
Postada à beira do açude,
Maria reza e bendiz
a vida, outrora tão rude,
que a água tornou feliz.
Oscar Vieira Soares
Não vou além dos meus passos.
Quem dera fugir de mim!
A dor me faz em pedaços
na noite que não tem fim.
Paulo Martins Magalhães
Vinho é bom mas, pede juízo!
Para evitar confusão
o rótulo traz aviso:
"beber com moderação"!
Paulo Pereira Lima
Em lágrimas, fonte erguida,
aquele desesperado,
na aragem da fé surgida
vê o perdão por Deus mandado.
Paulo Sayão Lobato
A brisa da madrugada
bate fraca no meu rosto,
cai a chuva na calçada,
rodando vai meu desgosto.
Renato Ramos Macedo
Mãe é rosa perfumada,
com beleza e sem espinho.
É  flor… a mais delicada,
formada só de carinho!
Sebastiana de Souza
Vaqueiro velho de antanho,
tendo rotos os gibões,
vou tangendo hoje o rebanho
das minhas desilusões.
Tharcílio Gomes de Macedo
Diz a juventude assim:
“– Só mais velho é que faz trova.
Trova não é para mim.”
Mas… quando conhece, aprova!
Yeda Sá e Souza Pacheco

Folclore da África (Ossain ou Ossanha)




         Marly Rondan Pinto
Ossanha

Ossanha. Orixá das Ervas…
Guarda as folhas na cabaça.
Muitos segredos preservas.
Pões sucos na minha taça…

Orixá das folhas, ervas:
Alecrim, Boldo e Cidrão.
Proteje nossas reservas.
Livra a Terra da agressão.

É o Orixá da cor verde.
Ossanha habita a floresta.
Quem não a conhece perde…
Da Natureza essa Festa!

Senhor - Senhora das folhas,
Comanda as ervas sagradas.
Tira com elixir as falhas…

Elixir que dá vigor.
Protege nossa saúde.
Ossanha cura esta dor!

Ossain, o senhor das folhas

Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas.
Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor.
Outras, a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda, a miséria, as doenças e os acidentes.
Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta.
Eles dependiam de Ossain para manter a saúde ou para o sucesso de suas iniciativas.
Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e imperioso, irritado com esta desvantagem, usou de um ardil para tentar usurpar de Ossain a propriedade das folhas.
Falou do plano à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos.
Explicou-lhe que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de lroko, uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas.
"Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô.
Iansã aceitou a missão com muito gosto.
O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando as árvores, quebrando tudo por onde passava e, o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada.
A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os orixás se apoderaram de todas.
Cada um tomou-se dono de algumas delas, mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação.
E, assim, continuou a reinar sobre as plantas, como senhor absoluto.
Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.
–––––––––-

Ossain é a divindade das plantas medicinais e litúrgicas. A sua importância é fundamental, pois nenhuma cerimônia pode ser feita sem a sua presença, sendo ele o detentor do àse ( o poder ), imprescindível até mesmo aos próprios deuses.
O nome das plantas, a sua utilização e as palavras (ofo), cuja força desperta seus poderes, são os elementos mais secretos do ritual no culto aos deuses iorubás.
O símbolo de Ossain é uma haste de ferro, tendo, na extremidade superior, um pássaro em ferro forjado; esta mesma haste é cercada por seis outras dirigidas em leque para o alto.
Uma história de Ifá nos ensina como “o pássaro é a representação do poder de Ossain. É o seu mensageiro que vai a toda parte, volta e se empoleira sobre a cabeça de Ossain para lhe fazer o seu relato”. Esse simbolismo do pássaro é bem conhecido das feiticeiras, aquelas freqüentemente chamada Elýe, “proprietárias do pássaro-poder”.
A colheita das folhas deve ser feita com extremo cuidado, sempre em lugar selvagem, onde as plantas crescem livremente. Aquelas cultivadas nos jardins devem ser desprezadas porque Ossain vive na floresta, em companhia de Àrònì, um anãozinho, comparável ao saci-pererê, que tem uma única perna e, segundo se diz no Brasil, fuma permanentemente um cachimbo feito de casca de caracol enfiado num talo oco cheio de suas folhas favoritas. Por causa dessa união com Àrònì, Ossain é saudado com a seguinte frase: “Holá! Proprietário-de-uma-única-perna-que-come-o-proprietário-de-duas-pernas!” alusão às oferendas de galos e pombos que possuem duas patas, feitas a Ossain Àrònì, que possui apenas uma perna.
Os Olóòsanyìn, adeptos de Ossain, são também chamados Oníìsègùn, curandeiros, em virtude de suas atividades no domínio das plantas medicinais. Quando eles vão colher as plantas para seus trabalhos, devem faze-lo em estado de pureza, abstendo-se de relações sexuais na noite precedente, e indo à floresta, durante a madrugada, sem dirigir palavra a ninguém. Além disso, devem ter cuidado em deixar no chão uma oferenda em dinheiro, logo que cheguem ao local da colheita.
Ossain está estreitamente ligado a Orunmilá, o senhor das adivinhações. Estas relações, hoje cordiais e de franca colaboração, atravessaram no passado períodos de rivalidade. Algumas lendas refletem as lutas pela primazia e pelo prestígio entre os adivinhos babalaôs e os curandeiros onixegum. Como essas histórias são transmitidas através das gerações pelos babalaôs, não é de estranhar que tendam a glorificar mais Orunmilá, e em conseqüência eles mesmos, do que Ossain e os curandeiros.
Segundo uma lenda recolhida por Bernard Maupoil, “quando Orunmilá veio ao mundo, pediu um escravo para lavrar seu campo; compraram-lhe um no mercado; era Ossain. Na hora de começar seu trabalho, Ossain percebeu que ia cortar esta erva, pois é muito útil”. A segunda curava dores de cabeça. Recusou-se também a destruí-la. A terceira suprimia as cólicas.” Na verdade”, disse ele, não posso arrancar ervas tão necessárias.” Orunmilá, tomando conhecimento da conduta de seu escravo, demonstrou desejo de ver essas ervas, que ele se recusava a cortar e que tinha grande valor, pois contribuíam para manter o corpo em boa saúde. Decidiu, então, que Ossain ficaria perto dele para explicar-lhe as virtudes das plantas, das folhas e das ervas, mantendo-o sempre ao seu lado na hora das consultas”.
Uma outra história de Ifá nos diz que,se é Ossain que conhece o uso medicinal das plantas, é, entretanto, a Orunmilá que cabe o mérito de haver conferido nomes a essas mesmas plantas. Os poderes de cada planta de cada estão em estreita ligação com o seu nome e são despertados por palavras obrigatoriamente pronunciadas no momento de seu uso. Essas palavras são indicadas pelos adivinhos aos curandeiros, fato este que dá aos primeiros uma posição de supremacia sobre os segundos.
Essa superioridade é afirmada numa outra lenda, onde “Oferenda”, filho de Orunmilá, compete com “Remédio”, filho de Ossain. Graças a um artifício imaginado por Orunmilá, seu filho “Oferenda” é declarado vencedor de “Remédio” para mostrar que o poder dos babalaôs é superior ao dos curandeiros. Os babalaôs afirmam assim que, sem o poder liberador da palavra, as plantas não exerceriam a ação curativa que possuem em estado potencial.
Ossain é originário de Irão, atualmente na Nigéria, perto da fronteira com o ex-Daomé. Ele não fez parte dos dezesseis companheiros de Odùduà, quando de sua chegada a Ifé. O papel de curandeiro é assumido aí por Elésje.
Na África, os curandeiros, chamados Olóòsanyìn, não entram em transe de possessão. Eles adquirem a ciência do uso das plantas após uma longa aprendizagem.

Ossain no Novo Mundo
No Brasil, as pessoas dedicadas a Ossain usam colares de contas verdes e brancas. Sábado é o dia consagrado a ele e as oferendas que lhe são feitas compõem-se de bodes, galos e pombos. Seu iaôs, ao contrário daqueles de África, entram em transe, mas nem sempre possuem conhecimento profundo sobre as virtudes das plantas. Quando eles dançam, trazem nas mãos o mesmo símbolo de ferro forjado, cuja descrição já foi feita anteriormente. O ritmo dos cantos e das danças de Ossain é particularmente rápido, saltitante e ofegante. Saúda-se o deus das folhas e das ervas gritando-se: ” Ewé Ô! ” (“Oh! As folhas!”).

Arquétipo
O arquétipo de Ossain é o das pessoas de caráter equilibrado, capazes de controlar seus sentimentos e emoções. Daquelas que não deixam suas simpatias e antipatias intervirem nas suas decisões ou influenciarem as suas opiniões sobre pessoas e acontecimentos. É o arquétipo dos indivíduos cuja extraordinária reserva de energia criadora e resistência passiva ajuda-os a atingir os objetivos que fixaram. Daqueles que não tem uma concepção estreita e um sentido convencional da moral e da justiça. Enfim, daquelas pessoas cujos julgamentos sobre os homens e as coisas são menos fundados sobre as noções de bem e de mal do que sobre as de eficiência.

Fonte:
Pierre Fatumbí Verger. Lendas Africanas dos Orixás.
Pierre Fatumbí Verger. Orixás.

Trova 270 - Dorothy Jansson Moretti (Sorocaba/SP)


Folclore Indígena Brasileiro : Tribo Umutina (Como Surgiram as Doenças)



Os índios Umutinas explicam o surgimento das doenças como uma solução para evitar a superpopulação das aldeias. Naqueles dias antigos, os velhos não morriam de coisa alguma, nem ficavam doentes, nem perdiam os dentes. Como tinham todos os dentes na boca e um apetite de leão, comiam o dia todo sem produzir nada, tirando o alimento até das crianças.
Certa feita, três homens decidiram encontrar uma solução para o problema (sem se darem conta de que um dia eles também seriam tratados como um problema). Foram, então, fazer uma visita à Lua, que entre os índios é homem e se chama Hári.
– Que solução você tem para que não acabe faltando comida para todos? – disse um dos três futuros velhos.
Hári, que era também um feiticeiro, coçou a cabeça e disse:
– Infelizmente não posso ajudar. Procurem Mini.
Mini era o Sol. Os três índios foram para a casa dele. Depois de muito caminhar, chegaram, afinal, ao seu destino.
– Bom dia, Mini. Dê-nos o veneno mais forte que tiver em seu herbanário.
O Sol ergueu as sobrancelhas.
– Veneno para quê?
– Queremos um veneno para acabar com os velhos da nossa aldeia.
– Vocês estão loucos?
– Não, não estamos. É preciso fazer isso ou nossa aldeia inteira morrerá de fome.
Então o Sol reconsiderou e trouxe da sua sala de moléstias uma flecha mágica. Junto com ela vinham várias doenças.
Os índios escutaram atentamente e pareceram satisfeitos.
– Mas, cuidado – alertou o Sol. – Só atirem a flecha depois de se esconderem atrás de uma árvore, pois ela costuma voltar para atingir o seu arremessador.
Como sempre acontece, o aviso fatal entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Tudo quanto eles pensavam era em dar um jeito nos velhos da tribo.
Os três índios andaram e andaram até chegarem, enfim, à aldeia.
– Vamos experimentar esta flecha de uma vez! – disse um dos três.
Após tomar do arco, o arqueiro fez pontaria em um velho que estava sentado embaixo de uma árvore desde o raiar do dia comendo mandioca e milho verde.
Antes de suspender o arco, o arqueiro escolheu uma doença.
Então a flecha não tardou a voar direto no velho. Ela varou o ventre dele e retornou na direção do arqueiro, que só não foi atingido porque lembrou, no último instante, do aviso do Sol.
Os três ficaram escondidos para ver o efeito da seta. Em menos de meio minuto, o velho começou a se sentir mal e acabou morrendo. E assim os três índios saíram escondidos pela aldeia, dando flechadas nos velhos.
Então, certo dia, outro índio resolveu pedir emprestada a flecha mágica para caçar animais.
Na pressa, os três índios esqueceram de avisar a ele sobre o vai e volta da flecha, e o caçador partiu alegremente, sem desconfiar do perigo.
No mesmo dia meteu-se na selva e procurou a melhor caça que pôde.
– Tem de ser um bicho daqueles! – disse a si mesmo, enquanto espreitava.
Não demorou muito e surgiu um veado enorme, maior do que um cavalo. O índio assestou a flecha e soltou a corda. A seta foi até o veado, cumpriu com o seu papel de abatê-lo e retornou até o arqueiro. Como este estava desavisado da volta, em vez de esconder-se atrás de uma árvore, ficou parado no mesmo lugar, recebendo a flechada da volta bem no meio do peito.

Fonte:
Franchini, Ademilson S. As 100 melhores lendas do folclore brasileiro. Porto Alegre/RS: L&PM, 2011.

Os Umutina viviam antigamente na margem direita do rio Paraguai, aproximadamente entre os rios Sepotuba e Bugres. Sua área de domínio, entretanto, estendia-se desde aquelas paragens até o rio Cuiabá. Com a chegada dos não-índios os Umutina deixaram a região do Sepotuba e migraram mais para o norte, passando a viver às margens do rio Bugres, por eles denominado Helatinó-pó-pare, afluente do alto Paraguai.Estão distribuídos em duas aldeias, uma de nome ‘Umutina’, onde vivia a maioria de sua população (420 indivíduos), e a outra, mais recente, é chamada de ‘Balotiponé’, onde moram as outras 25 pessoas, divididas em cinco famílias [dados de 2009]. As aldeias estão localizadas na Terra Indígena Umutina, em uma área de 28.120 hectares homologada em 1989, nos municípios de Barra do Bugres e Alto Paraguai, entre os rios Paraguai e Bugres, em Mato Grosso. A TI está situada em uma faixa de transição da Amazônia e do Cerrado, sendo que este último compreende a maior parte do território.
Eram chamados de Barbados por possuírem ralas barbas, que consideravam sinal de orgulho.
No início do século XX foram descritos como indígenas agressivos e violentos por impedirem pela força, a invasão de seu território tribal, invadido pelos homens brancos.
A pacificação definitiva deu-se em 1911, com o contato realizado pelo Coronel Rondon entre os rios Paraguai e Bugres, que determinou ao Governo do Estado que demarcasse aquelas terras como posse dos Umutina. Apesar disso, o grupo continuou a ser exterminado por parte dos extrativistas da região e também pelas as doenças como a gripe, o sarampo, a tuberculose e a bronco-pneumonia.
A atividade principal do povo Umutina era a agricultura e consistia principalmente do plantio de milho e da mandioca. A pesca era realizada com arco e flecha e as mulheres preparavam os peixes com mingau e pimenta. As caçadas e a coleta de mel, frutos, cogumelos, resinas e ervas medicinal complementavam subsistência do grupo. Hoje, dedicam-se a criação de gado, ao trabalho nas fazendas da região, a venda do pescado e aos projetos agrícolas da FUNAI.
Segundo Harald Schultz os relacionamentos entre os umutinas eram monógamos. Os pais decidiam o futuro esposo de suas filhas e o dia do casamento, quando era realizada uma cerimônia em que o casal pintava o corpo inteiramente de urucu.