domingo, 30 de agosto de 2015

Trovadora Homenageada: Eliana Dagmar

A certeza que me encanta
e a ti também, certamente,
é saber que a mãe mais santa
será sempre a mãe da gente!
Aplauso é luz de dois gumes...
Cuidado... avisa o teu ego...
O excesso, às vezes, de lumes
transforma o sábio num cego...
As veredas de meu ego
são rotas de um labirinto
que quanto mais eu trafego,
mais perto de mim me sinto!
Chegar longe é quase nada
para aquele que na vida
faz do ponto de chegada
novo ponto de partida.
Com pedrinhas de saudade
uma torre eu construí:
– dentro dela tenho a idade
dos sonhos que já vivi!
Coragem mesmo, de fato,
encontro em cada Maria
que da prole, em raso prato,
mata a fome todo dia!
Da infância ainda guardo viva
a imagem de um lampião:
– era uma estrela exclusiva
num céu tão perto do chão!
De meu pai, desde pirralha,
guardo a lição que hoje entono:
- não há fortuna que valha
a paz que me embala o sono!
Disfarcei, com tal destreza,
minha dor e cicatriz,
que até a própria tristeza
pensou que eu fosse feliz!
Esta certeza me invade
e a vida nunca a distorça:
- Um sorriso de bondade
convence mais do que a força!
Estrela de um brilho régio,
de uma luz que não se esvai;
Luzia - que privilégio!
- foi meu mestre, amigo e pai.
Falso amor, ainda me inspira
tantos versos de saudade...
Que importa se era mentira?
Eu fui feliz de verdade!
Igual penetra faceiro
meu coração sem juízo,
deita e rola por inteiro
na festa do seu sorriso!
Luiz Otávio renova
o perfume que há no verso,
semeando a Rosa da trova
pelos jardins do universo!
Meu reino é coisa tão minha,
é meu lar e onde estiver,
nele sou mais que rainha:
– sou mãe,amiga e mulher!
Meus sonhos tinham outrora
toda a altivez dos pinheiros,
que a serra da vida agora
vem transformando em madeiros...
Meu tesouro é singular,
superlativo e tão pleno...
E, mesmo assim, no meu lar
cabe num berço pequeno!
Nana-nenê... Teus caminhos,
mesmo que excedam meus passos,
ainda cabem todinhos
no aconchego dos meus braços…
Não condenes o delírio
que atiça as paixões humanas;
não perde a pureza o lírio
colhido por mãos profanas...
Não te iluda a fantasia
nem te impressione a bravata:
– há palhaço todo dia
vestindo terno e gravata.
Na solidão da sarjeta,
sob a marquise tão nua,
o sono cobra gorjeta
dessas crianças de rua...
Nem sempre o tamanho ordena
a nobreza de um troféu:
– na manjedoura pequena
coube um Rei maior que o Céu!
No delírio, entre lençóis,
a tua boca encarnada
tem a cor dos arrebóis
invadindo a madrugada...
Olho a estrada percorrida
e reconheço, à distância,
que o respeito pela vida
a gente aprende na infância.
Palavra é força graúda,
mesmo em pequena oratória.
Um bilhete, às vezes, muda
todo o curso de uma história...
Para fugir da saudade
me disfarcei de alegria;
e a danada, por maldade,
pôs a mesma fantasia..
Quanta exceção há na regra
que o adeus, às vezes, constrói:
– pois chegar nem sempre alegra
e partir nem sempre dói...
Senhor Deus, misericórdia,
se, na soma dos meus dias,
tantas vezes fui discórdia
e não a Paz que querias...
Sereno é colcha fluida
que ao cair, abençoada,
cobre a relva adormecida
no berço da madrugada...
Siga, filho, nessa graça
da virtude que o distingue:
– seja o brilho da vidraça,
jamais a mão do estilingue.
Só o amor sabe de cor
esta divina lição:
– nenhuma ofensa é maior
que a grandeza do perdão!
Sou saudade caminhando
pelos pés de uma lembrança,
a todo instante indagando
o porquê de tanta andança...
Torno a vida um fardo leve
porque acredito no amor;
sou palhaço que se atreve
a sorrir da própria dor...
Velhice é a idade de quem
perdeu o brilho do olhar;
é a vida empurrando alguém
que desistiu de sonhar...

O Poetrix em Uma Breve Pincelada


O que é poetrix 
(excerto de artigo de José de Sousa Xavier)
    

 O poetrix, embora inicialmente proposto como evidente alternativa ao haicai, apresenta características próprias que o faz diferente.
     Trata-se de um poema contemporâneo em terceto, de temática livre, com título, ritmo e um máximo de trinta sílabas métricas, que possui figuras de linguagem, de pensamento, tropos ou teor satírico. O neologismo foi criado a partir de POE (poesias) e TRIX (três).
     O Manifesto Poetrix, inicialmente, foi concebido da seguinte forma:
     1. No POETRIX, o título é desejável, mas não exigível. Ele exerceria uma função de complementaridade ao texto, definindo-o ou sendo por ele definido. (depois, o título passaria a ser uma exigência)
     2. Não existe rigor quanto ao número de sílabas, métrica ou rimas no POETRIX, mas o uso do ritmo e da similaridade sonora das palavras, sim. (depois, foi estabelecido o limite de 30 sílabas métricas)
     3. O uso de metáforas e outras figuras de linguagem são uma constante no POETRIX, assim como a criação de neologismos.
     4. A interação autor/leitor deve ser provocada através da subliminaridade do POETRIX.
     5. O POETRIX é necessariamente uma arte minimalista, ou seja, ele procura transmitir a mais completa mensagem com o menor número de palavras.
     6. O POETRIX considera Passado, Presente e Futuro como uma só dimensão: TEMPO, podendo ser utilizado indistintamente.
     7. No POETRIX o observador (autor), as personagens e o fato observado podem interagir, criando condições suprarreais ou ilógicas ("non sense").
     Posteriormente sofreu mudanças, como: exigência do título e ter um máximo de trinta sílabas. No plural a palavra poetrix não se altera, e os praticantes do estilo são chamados de poetrixtas. A partir deste estilo de poesia, no largo intercâmbio praticado pelos autores no grupo virtual POETRIX (literatrix-subscribe@yahoogrupos.com.br), foram criadas outras variações, e chamadas de “Formas Múltiplas do Poetrix”.  As quais temos: duplix, triplix, multiplix (criações coletivas criadas por dois ou mais poetrix, conforme indica as palavras), clonix (gerado a partir de outro já existente), graftix (ilustrado), concretix (poetrix concreto) e cirandas (séries de poetrix temáticos).
Fonte: http://www.movimentopoetrix.com/

Goulart Gomes (Poetrix)



A FILOSOFIA A GOLPES DE MARTELO
ela disse "Nietzsche"
ele falou "Saúde"
incompatibilidade de academias
ANTES QUE O SOL NASÇA
Imagine um dia assim
Luzes rasgando a aurora
A manhã, embriagada, perdendo a hora
BAILARINA
na ponta dos pés
rodopiam
o mundo e nós, juntos
ESPELHO D'ÁGUA
as trutas se banham nas nuvens
enquanto o sol rompe as gotas
navego ou flutuo?
minimalista
nunca minto
às vezes, apenas
encolho a verdade
MISSIVA
começo com minha graça
termino com votos de paz
minhas mal-tratadas linhas
QUATRO ELEMENTOS
tu, no ar; eu, na água
ambos, na terra
em brasa
SOBRE ESTA PEDRA ERGUEREI
Molhada. A gema intumescida
Por sobre, a relva
Caverna escondida
SÉRIE "TAROT"
TAROTRIX 0 – O POETA
louco de Deus
bardo bobo
revolucionando o mundo
TAROTRIX 1 – O MAGO
jovem, sou Hermes
ancião, Merlin:
o que está acima, está em mim
TAROTRIX 2 – A SACERDOTISA
em tuas mãos, a verdade
nos teus olhos, a ternura
mulher, em divindade
TAROTRIX 3 – A IMPERATRIX
com as mãos no cetro
despe o manto
entre risos, faz-se rainha
TAROTRIX 4 – O IMPERADOR
meu reino entre quatro paredes
um império se ergue
nos lençóis deste leito
TAROTRIX 5 – O HIEROFANTE
se o papa é pop
e o bispo, milionário
quero São Pedro para empresário!
TAROTRIX 6 – OS AMANTES
desde o Éden
impossível escolha
entre Lilith e Eva
TAROTRIX 7 – O VEÍCULO
Apolo, Arjuna, São Cristóvão
as setas da alma
apontam a direção
TAROTRIX 8 – A JUSTIÇA
o Universo dança.
entre causa e efeito
equilibra-se uma sentença
TAROTRIX 9 – O EREMITA
quando o silêncio fala
no vazio das coisas:
encontro íntimo
TAROTRIX 10 – A FORTUNA
meneios de Shiva
segredos de Esfinge
as Moiras tecem confidências
TAROTRIX 11 – A FORÇA
confidências entre a bela e a fera
“Força Sempre”
diz-me ela
TAROTRIX 12 – O SUSPENSO
sobre o precipício
imponho-me o suplício
promessas de Prometeu
TAROTRIX 13 – O CEIFA(DOR)
romper casulos
quebrar as cascas
renascer a cada morte
TAROTRIX 14 – A TEMPERANÇA
como quem enterra a semente
para repartir o pão
aguardo uma nova estação
TAROTRIX 15 – O DEMÔNIO
O corpo pede!
- Nada em demasia,
O Oráculo, repetia
TAROTRIX 16 – A TORRE
- Quem vem lá?, grito ao fantasma
e do eco do eco do meu medo
- Sou tu, responde o espelho
TAROTRIX 17 – A ESPERANÇA
imortal, habitas meu peito
em teus olhos, a eternidade
meu mundo pelo teu beijo
TAROTRIX 18 – A LUA
um outro lado, ignorado
meio-Ogum, meio-dragão
lunático, aluado
  
TAROTRIX 19 – O SOL
a luz se faz
fogo que não arde
tudo é vida, e nada mais
TAROTRIX 20 – O JULGAMENTO
diante dos meus pecados
sou promotor, juiz e advogado:
em paz, pronuncio meu veredicto
TAROTRIX 21 – O UNIVERSO
a matéria se transforma,
a energia flui; eu, penso.
Deus, faz Poesias...

             
José Goulart de Souza Gomes nasceu em Salvador/BA, em 1965. Administrador de Empresas, pós-graduado em Literatura Brasileira (UCSAL) e em Gestão de Comunicação Integrada (ESPM-RJ). Atua na área de Comunicação Empresarial. É espiritualista e pesquisador de ficção científica. Fundador do Grupo Cultural Pórtico (1995) e criador da linguagem poética Poetrix (1999). Obteve dezenas de prêmios em concursos de poesia, prosa e festivais de música e participou de mais de 50 coletâneas publicadas no Brasil, Cuba, Espanha, USA, Itália, França e Coréia do Sul e tem trabalhos divulgados em vários outros países. Coordenador do Movimento Internacional Poetrix e do Grupo Cultural Pórtico. Como editor alternativo propiciou a publicação de 56 livros e coletâneas de novos autores.
Algumas obras:
 Anda Luz (1987); Todo Desejo (1990); Sob a Pele (1994); Esfinge Lunar e Outros Enigmas (2001); Trix, Poemetos Tropi-kais (1999); Minimal, dos males o menor (2007); A Divina Comédia no Cordel (1989); Todo Tipo de Gente, contos (2003), 501 Poetrix: para ler antes do amanhecer (2011).
Fontes:
Goulart Gomes. Minimal, dos males o menor. Salvador/BA: Copygraf, 2007.
Goulart Gomes (org.). 501 Poetrix: para ler antes do amanhecer. Lauro de Freitas/BA: Livro.com, 2011.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Aparício Fernandes (A Trova no Brasil) 2o. Festival Brasileiro de Trovadores, parte 1

2o. Festival Brasileiro de Trovadores, realizado em abril de 1970, na cidade de Maringá/PR. Na Catedral de Maringá foi celebrada uma missa originalíssima, onde as orações, após serem ditas na forma tradicional, eram repetidas em trovas (de autoria de A. A. de Assis), com fundo musical e vocalização feita pelo Coral Municipal de Maringá.
     A Igreja lindamente ornamentada com flores oferecidas pelo Dr. Akira Oda, dono de uma das melhores floriculturas brasileiras, estava repleta. No entanto, reinava um silêncio impressionante. Muitos dos presentes tinham lágrimas nos olhos. Irmanadas a poesia e a espiritualidade, o resultado foi simplesmente inesquecível. O que ninguém esperava é que o padre Sidney Zanettini, celebrante do ofício, resolvesse também fazer o seu sermão em… trovas! Ei-lo, na íntegra:
Autoridades presentes,
minhas senhoras senhores,
crianças e adolescentes,
caríssimos trovadores!
Perdão eu lhes pediria
pelo pouquíssimo dote
que tem, para a poesia,
este humilde sacerdote.
Mas se, nesta ocasião,
a Trova aqui se sublima,
eu quero abrir meu sermão
tentando fazê-lo em rima.
Aceitem um forte abraço,
carinhoso e cordial,
na homenagem que lhes faço
em nome da Catedral.
Que São Francisco de Assis,
o trovador pobrezinho,
receba agora, feliz,
nossas preces, com carinho!
E que nossa Padroeira,
Nossa Senhora da Glória,
guie a Trova brasileira
numa feliz trajetória!
E que esta jovem cidade,
que é cidade e que é canção,
implante a felicidade
em todos, no coração!
Cantem, poetas, e encantem
a vida de toda gente.
Mas, quando cantarem, cantem
as coisas belas somente.
Cantem pregando a esperança,
falando de paz e amor,
e da bem-aventurança
que herdamos do Criador.
Haja em seus versos a prova
do que é bom fazer o bem!
Que Deus abençoe a Trova
e os trovadores também!
Desculpem-nos recebê-los
nesta velha Catedral.
No ano que vem, vamos tê-los
na outra, monumental.
Reparem que um novo Templo
vai crescendo ao nosso lado.
É o belo e sublime exemplo
de um povo a Cristo irmanado!
Caríssimos trovadores,
o que, porém, mais importa,
é manter para os senhores
sempre aberta a nossa porta.
Uma alegria sincera
sua presença nos dá,
transformando em primavera
este outono em Maringá.
Que Deus lhes dê nesta vida
felizes inspirações
e uma bênção comovida
por suas lindas canções!
Levem às suas cidades,
às suas terras distantes,
muitas e alegres saudades
destes alegres instantes.
Que aqui, da mesma maneira,
as saudades ficarão,
na alegria alvissareira
que as suas trovas nos dão.
Amigos, muito obrigado
por esta oportunidade
de tê-los ao nosso lado
em nossa comunidade.
Voltem sempre a Maringá,
que a vocês estende a mão
e em nome do Paraná
lhes abre o seu coração.
Cantem a paz, a alegria,
cantem cantigas de amor,
que a verdadeira poesia
agrada a Nosso Senhor!
     A missa foi encerrada ao som do Hino dos Trovadores, cantado pelo Coral Municipal de Maringá, letra e música de Luiz Otávio.
     De Curitiba, o Secretário de Educação e Cultura do Estado do Paraná, sr. Nelson Luís Silva Fanaya, causou sensação quando, despachando em trovas, enviou aos organizadores e participantes do Festival a seguinte mensagem:
Ao poeta, cuja imagem
lembra uma eterna canção,
enviamos a mensagem
da Pasta de Educação.
Por que nós, de alguma forma,
também fazemos poesia.
E o Paraná se transforma,
pois a cultura irradia.
O nosso poema é nobre,
porque é feito da criança
que em cada escola descobre
uma trova de esperança.
O Paraná se engalana,
enchendo-se de alegria.
E aos trovadores se irmana
no Festival da Poesia.
A todos vocês que, unidos,
falam de amor e saudade,
queremos, agradecidos,
trazer a nossa amizade.
Queiram todos, neste dia,
aceitar a saudação
de nossa Secretaria
de Cultura e Educação!

Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

Trovador Homenageado: Luiz Machado Stábile

A causa não foi à toa
de tão grande quebradeira:
– era o “gato” da patroa
e a “gata” da cozinheira.…
A criança abandonada,
sem pai, sem teto, sem pão,
tem a violência estampada
no rosto e no coração.
A dúvida do velhinho,
quanto ao filho da mulher,
é saber se é do vizinho,
do mordomo ou do chofer…
A mãe, mulata de festa,
o pai, português do Minho,
e a grande surpresa é esta:
– o filho nasceu loirinho…
A patroa se consome
ao descobrir que a empregada
sendo Pimenta no nome,
tem a língua apimentada…
A surpresa foi danada
para o pai, pois disse o filho:
-Tá curta, velho, a mesada,
vê se dispara o gatilho!.
A tua volta, querida,
é força que me renova,
põe amor em minha vida
e euforia em minha trova.
Chora a viúva do Honório
que morreu envenenado;
e o "veneno", no velório,
"mata" qualquer convidado!
Dançamos de passos certos,
mas a dança não nos faz
corrigir passos incertos
de tantos anos atrás.
Diante dos outros - carinhos.
Perto de estranhos - afagos.
E surra, se estão sozinhos,
depois de dois ou três tragos!
Ela tem barriga d'água?
pergunta a mãe, preocupada,
e o médico, sem ter frágua:
- Mas o peixinho já nada...
Eu sinto que este chamego
por ti é mais do que isso;
é mais do que amor e chego
a crer que é puro feitiço.
Eu duvidei, na verdade,
de tudo quanto afirmaste,
mas hoje, nesta saudade,
sinto que me enfeitiçaste.
Fazer trova com humor,
sobre escuro... não sei, não!...
Previna-se o trovador:
- é "humor negro" - eles dirão...
Fazia gato e sapato
com o marido. Coitado!
Mas, uma noite, seu “gato”
miou em outro telhado!…
Iniciou-se muito cedo
nossa história bela e grata
e o que pareceu brinquedo,
são hoje bodas de prata.
Mãe e filha são Pimenta,
e o velho, que é "vermelhão",
com santa paciência aguenta
a alcunha de "Pimentão".
Marujo, velho marujo,
na lábia dela não vais.
Conheces o dito cujo”
e é por isso que não cais.
Mesmo sendo pequenina,
com ela ninguém se meta,
pois sua língua ferina
é pimenta malagueta!
Na dança de roda existe
uma alegria sem fim,
que acorda a criança triste
que dorme dentro de mim.
Ninguém mais olhava a fita,
que o namorado e a Jurema
faziam cena inaudita
no escurinho do cinema!
Numa tarde fria e turva,
foi dar uma fugidinha:
Aí... “derrapou na curva”
na “condução” da vizinha…
O fandango dos Menezes
foi tão bem organizado,
que no fim de nove meses
começa a dar resultados…
O marujo acostumado
às ondas jamais tonteia,
mas na terra, se ‘molhado”,
anda tonto, volta e meia.
O patrão, com muita sede,
procurava água gelada,
mas foi achado na rede
lá no quarto da empregada.
O vizinho, eletricista,
ela, dada a calafrios,
bastou-lhe um golpe de vista
pra ter choques e arrepios…
Prometeu tudo pra ela:
– das joias à lua até.
Casados, deu-lhe panela
e um fogão com chaminé!
Quando daqui tu partiste,
de modo algum me abalei;
só uma coisa me fez triste:
– a surra que não te dei!
Quando partes, fico em trevas
e não sei se minhas queixas
vêm dos sorrisos que levas
ou das tristezas que deixas!
Que importa a dança das horas
que vão céleres passar?
Importa, quando demoras,
a hora em que vais voltar.
Querendo afogar as mágoas
vai à pinga, vai ao bar,
mas, como vive nas águas
elas já sabem nadar…
Se um dia calar meu canto
e eu não puder mais lutar,
que não me falte, no entanto,
coragem para sonhar.
Teus olhos são, em verdade,
a minha fonte de vida:
– são dois faróis de bondade
na minha noite sofrida…
Todos sabem que assim é,
como eu próprio também sei:
– vive o cristão, pela fé,
muito mais que pela lei.
Veloz, corria na praia,
despreocupado e ao léu...
Viu uma “curva” sem saia,
e só acordou no céu…
“Volto em breve” – eis a promessa
de todo marujo esperto,
e como promete à beça,
não volta nunca, por certo.