segunda-feira, 23 de maio de 2016

II Concurso Internacional de Trovas do Japão (Resultado Final)

Promovido pelo Professor Edweine - Loureiro
Delegado da União Brasileira de Trovadores UBT-Japão

Tema: ESPERANÇA

Troféu Cristina Olivera Chavez

VENCEDORES:

1º Lugar:


Tenho um jardim diferente...
e entre nós, há uma aliança:
Por mais que eu mude a semente,
só nasce a flor da esperança!
Professor Francisco Garcia
(Caicó/RN)

2º Lugar:


Quando as chuvas tão pedidas
caem fartas no sertão,
a esperança é refletida
nas poças d'água no chão.
Eliana Ruiz Jimenez
(Balneário Camboriú/SC)

3º Lugar:

 
A escola... a farda... eu criança...
o hino nacional... a fila...
-Oh meu Deus, quanta esperança
eu levava na mochila...
Manoel Cavalcante de Souza Castro
(Pau dos Ferros/RN)

4º Lugar:

 
Matar a alheia esperança
é crime cruel demais...
É um pecado sem fiança,
mais grave que os capitais!
Antonio Augusto de Assis
(Maringá/PR)

5º Lugar:

 
Com esperança eu persisto,
aguardo o tempo que for...
De te querer, não desisto:
creio na força do amor!
Alba Helena Corrêa
(São Paulo/SP)

MENÇÃO HONROSA


Para quem nutre a esperança,
qualquer desejo é possível.
Luto com perseverança
e, com Deus, sou invencível!
Alba Helena Corrêa
(São Paulo/SP)

-

Minha esperança é tão grande,
que afastá-la, não consigo,
onde quer que eu vá ou ande,
ela sempre vai comigo!
Delcy Rodrigues Canalles
(Porto Alegre/RS)


Com a fé que me conduz
e a esperança que me atrai,
caminho seguindo a Luz
que leva à casa do Pai.
Maria Luíza Walendowsky
( Brusque/SC)


Para os sonhos de criança:
eu...você...nós dois depois,
roda-gigante e esperança
têm cadeirinhas pra dois!
Austregésilo de Miranda Alves
(Salvador/BA)


Sempre existe uma esperança
a acenar à nossa frente...
Feliz de quem não se cansa
de ouvir seu apelo: - “Tente!”
Carolina Ramos
(Santos/SP)

MENÇÃO ESPECIAL


Esperança é veio d’água
que brota dentro da gente;
quando, na veia, deságua,
jorra uma densa corrente.
Geraldo Trombin
(Americana/SP)


Quando a treva a mim alcança
e me deixa sem saída,
busco uma luz de esperança
no escuro túnel da vida.
Marialice Araújo Velloso
(São Gonçao/RJ)


O fardo da insegurança
faz o pai perder seu brilho,
ao dizer: - Tenha esperança!
- Não desanime, meu filho!
Wandira Fagundes Queiroz
(Curitiba/PR)


Mantenho viva a esperança
de ver unidas as mãos
e, corações, com voz mansa,
cantando em roda de irmãos!!!
Carolina Ramos
(Santos/SP)


Aceito o adeus com pujança...
Bem maior que o teu desdém,
foi ter que ver a esperança
partir contigo também!
Gilvan Carneiro da Silva
(São Gonçalo/RJ)

TROVAS DESTAQUE


A esperança é tecelã
do amor, ventura, abastança
e fiação do amanhã
que tece a calma, a bonança...
Maria Cristina Cacossi Capodeferro
(Bragança Paulista/SP)


Se encruzilhada me lança
na indecisão que ela enceta,
tiro do alforje a Esperança,
fazendo dela uma seta.
Dodora Galinari
(Belo Horizonte/MG)


Eu perco toda a esperança
e quase toda a razão
quando vejo uma criança
pedindo um pouco de pão.
José Antônio de Freitas
(Pitangui/MG)


Se a cada dia me entrego
e me sinto um derrotado,
quanta esperança eu renego
e me rotulo um coitado!
Jessé Nascimento
(Angra dos Reis/RJ)


A esperança é como um canto
que embala nosso viver,
e é tão necessária quanto
o sol para o alvorecer!
Renata Paccola
(São Paulo/SP)

domingo, 15 de maio de 2016

Trova 273 - Vanda Alves da Silva (Curitiba/PR)


Teatro da Terra (O Cravo Espanhol) Estreia 25 de Maio

de Romeu Correia

direção de produção e luz Pedro Domingos

Estreia a 25 de maio às 21H30

Teatro Cinema de Ponte de Sor / Portugal
de 25 a 29 de maio
quarta a sábado às 21h30
domingo às 16h e 21h30

info e reservas: 967 710 598 | 242 292 073
teatrodaterra@gmail.com | teatrodaterra.pt.vu
bilhete – 6 €
“Assim, com o tempo, conseguimos fundir o que de vagas recordações trouxemos da infância com o belo-da-idadeadulta saído do gênio criador dos seus autores, que para o caso d’O Cravo Espanhol foram: algumas figuras dos saltimbancos do Picasso do período rosa; a Paulette Goddard, a do vestido-trapo, quando esta personificava o fruto juventude colhido por Chaplin; a Anna Magnani de alguns filmes neo-realistas italianos do pós-guerra; o clima patético dos vagabundos com um sonho dentro d’A Estrada, de Fellini, e todo o sortilégio que, felizmente, ainda surpreendemos para nosso regalo nas feiras, romarias, exibições de fantoches, nos dias de Circo, nos pantomineiros vendedores da banha da cobra (que arte e que poder de comunicação têm alguns destes tipos!); tudo isto, dizíamos nós, o passado e o presente muito bem digeridos no almofariz-da-vida, creio ter sido a teia mestra da nossa farsa trágica. Farsa trágica, um conflito de amor e frustração baseado nas cegadas carnavalescas dos anos vinte. História  dialogada numa linguagem direta e rude, sem papas na língua, como acontecia nos espetáculos de rua desses tempos.”

É desta forma que o autor Romeu Correia descreve resumidamente a sua obra O CRAVO ESPANHOL. O Escriturário, símbolo dos improvisadores que logo perdem a autoria para o anonimato, é o impregnador das antigas cegadas no clima das cenas. Miguel, o toureiro frustrado, procura realizar-se lidando touros de pano com pernas de homem, no Carnaval. A filha bonita faz de “cavaleiro” e o filho rebelde de “bandarilheiro”. Dois cavalheiros atraídos na ocasião colaboram, vestidos de “boi” para esta “casa da brincadeira”. As memórias de infância de poetas, compositores de improviso, cantadores de fado e toda uma fauna artística eminentemente popular, despertaram a necessidade de, já nos anos setenta, voltar a um conceito esquecido e até desprezado por alguma intelectualidade da época. Tratasse de uma literatura criação-desabafo de dores e alegrias com as raízes mergulhadas no cerne da alma do Povo. A ânsia de comunicar é de tal forma imperativa que nem o desconhecimento da escrita serviu de obstáculo a uma criação artística, que teve mais tarde uma correspondente identificação no plano estético, quer nas artes plásticas quer na cinematografia.
   
O Teatro da Terra inicia com Romeu Correia uma série de espectáculos baseados na nossa investigação da corrente neo-realista portuguesa, a “batalha pelo conteúdo” precursora de muitos dos agora considerados mestres do cinema, das artes plásticas ou do teatro.

TEATRO da TERRA – Centro de Criação Artística de Ponte de Sor , C R L
Avenida da Liberdade, 64F , 2 º - 7400-218 - Ponte de Sor • Portugal | NIF 508869935
Tel . + 351242292073 / + 351967710598 - teatrodaterra@gmail . com | 
teatrodaterra.pt.vu

Fonte:
Teatro da Terra

Professor Francisco Garcia (Teu Retrato)

TEU RETRATO
 
Na moldura contemplo o teu retrato
Que me deste sorrindo um certo dia,
E por vê-lo, confesso e te relato,
que ainda vivo este sonho e fantasia.
 
Passa o tempo e não passa esta alegria
Que conservo na mente e não maltrato,
Porque sem conservá-la, a nostalgia,
Transformava este sonho em sonho ingrato
 
Vendo o teu rosto lindo e sedutor,
Como eu lembro da força deste amor
Nestes seus lábios ternos, sensuais,
 
Ah! Que pena que o tempo nada sente,
E o que guardo comigo eternamente
É uma foto, consolo dos meus ais!

Olivaldo Júnior (Aquela lá)

A claridade do dia avançava sobre o quarto como se a convidasse para a vida. Era ela que se levantaria, tomaria banho e, quase por encanto, vestiria aquele vestido de flores, meio feliz demais para uma segunda-feira, mas, vá lá, só viveria aquela segunda-feira uma vez, então...

Pronto, abriu os olhos e, sentada ao pé da cama, passou a mão levemente nos cabelos, como se certificasse de que era ela mesma que estava ali. Sim, era ela. Bem, hoje é segunda, né?...

Levantou-se, pôs-se em frente ao espelho, escovou os dentes e, quando voltava para o quarto a fim de se vestir, lá estava ela.

- O que quer aqui? Já não me fez mal o suficiente?, disse, imperiosa, para a mulher que julgava ser a dona de sua ruína.

- Eu sempre estarei aqui, você sabe. Pode me mandar embora, eu não posso sumir..., respondeu à "preguiçosa" dona daquela casa, com jardim à beira-porta, colibris beijando flores, pardaizinhos de passagem.

- Eu preciso ir trabalhar, estou atrasada!, retrucou, áspera, à indesejável mulher sentada numa poltrona em seu quarto, onde ela, quando podia, costumava ler.

- Vou com você., calmamente falou a "penetra" à sua rival.

- Não mesmo!, decretou, impaciente, a senhora de seu quarto, a rainha de suas horas, seu Reino de Copas, recém-invadido por aquela que não queria desgrudar de seu caminho.

- Olha a bolsa, amiga!..., disse a "intrusa", só querendo ajudar.

- Um momento... Preciso me olhar no espelho!, avisou a proprietária daquele quarto, daquela cama, daquele oásis onde se refazia de sua luta diária. Lutava contra uma depressão havia meses, anos, talvez "séculos".

- É preciso mesmo isso?, indagou a "forasteira" a sua "amiga", que, ao se olhar no espelho, sem querer, deu cabo da falastrona que esvaneceu no ar qual nuvem de poeira, pó de Pirlimpimpim, restando apenas a mulher, sua segunda-feira e um espelho, interrogativamente mudo, manhãzinha, olhando-a, só.

Aquela lá, sentada na poltrona, era ela mesma. Será?! Sim, era ela.

Fontes:
O Autor

Edweine Loureiro (O Filho da Floresta e outros poemas)


 
  São 26 poemas, todos premiados em concursos literários no Brasil e em Portugal, nos quais o author escrece sobre os mais diversos temas ― entre estes: ecologia, paz e, claro, literatura.

    A obra obteve o Prêmio Literacidade – 2015.

    A capa foi feita pela artista japonesa Junko Tomita, e o prefácio pelo grande escritor Edelson Nagues. Eis o link da Editora LiteraCidade:
 http://www.literabooks.com.br/filhodafloresta

    Edweine Loureiro nasceu em Manaus em 1975. Advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (Prêmio LiteraCidade 2015). Vencedor do Prêmio Ganymedes José (Literatura Infantil e Juvenil) da União Brasileira de Escritores - RJ, em 2015. Também obteve o primeiro lugar, em 2016, nos Jogos Florais de Nova Friburgo (RJ), o mais tradicional concurso de trovas do Brasil. É membro correspondente da UBE-RJ e da Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências – SP.

Alguns poemas do livro:

FILHO DA FLORESTA

Sou forte, sou altivo.
Nascido, por encanto,
no encontro das águas.
Curumim atroari,
que não teme nada:
seja a grande sucuri,
seja a onça-pintada…

Sou desbravador de igapós
e dos mistérios de Marajó.
E, para ter o muiraquitã,
matei o gigante Piaimã.

Não tenho medo de saci,
nem do feroz mapinguari…
E, de noite, à beira do lago,
afago o boto-encantado.

Só uma coisa me apavora:
É descobrir, em má hora,
que nada mais resta
de minha amada floresta.

[Poema vencedor do VII Concurso Poesiarte – Arraial do Cabo/ RJ (Janeiro/2013) e 4º lugar no 3º Concurso Literário da Academia Metropolitana de Letras, Artes e Ciências (AMLAC) – Vinhedo/ SP (2013).]
AFLIÇÃO

Vejo-a ferida: nossa Mãe Terra…
Ela que, nascida para ser Eterna,
deu Vida a tantos…

E, no entanto,
ao longo dos tempos,
estando Ela em tormento,
a ninguém importou o Seu lamento.
Ninguém enxugou o Seu pranto.

E agora,
ainda esquecida,
Ela agoniza…

Aguardando, entristecida,
a derradeira hora…

Que, temo, não demora.

[Menção Honrosa Internacional no VIII Concurso Poesias sem Fronteiras (2012)]

Fonte:
O Autor

Irmãos Grimm (O alfaiate no céu)

    Um belo dia, o bom Deus quis dar um passeio pelo jardim celestial, levou consigo todos os apóstolos e santos, não ficando no Paraíso senão São Pedro. O Senhor recomendou-lhe que não deixasse entrar ninguém durante sua ausência e São Pedro ficou de guarda junto à porta do céu. Não demorou muito, alguém bateu. São Pedro perguntou quem era e o que desejava.

    - Sou um pobre e honesto alfaiate - respondeu uma vozinha humilde - que pede para entrar.

    - Sim, honesto! - disse São Pedro - como um ladrão candidato à forca! Tinhas os dedos compridos quando surrupiavas o pano aos fregueses! No Céu, não podes entrar, o Senhor recomendou-me que não deixasse entrar ninguém durante a sua ausência.

- Tende compaixão de mim! - choramingou o alfaiate - pequenos retalhos que caem da mesa não são roubados, não merecem sequer que se fale neles. Olhai, estou mancando por causa das bolhas que fiz nos pés, de tanto andar; não posso absolutamente voltar daqui. Deixai-me entrar, prometo fazer todo o serviço pesado, carregarei as crianças, lavarei as fraldas, limparei e esfregarei os bancos onde brincam e remendarei os rasgões de suas roupas!

São Pedro acabou por compadecer-se e abriu um pouquinho a porta do Céu, um tantinho apenas que deu para o alfaiate coxo insinuar-se. Recomendou-lhe que ficasse quietinho num canto atrás da porta para que, quando o Senhor voltasse, não o descobrisse, senão se zangaria.

O alfaiate obedeceu. Sentou-se no canto atrás da porta, mas, assim que São Pedro deu as costas, levantou-se e pôs-se a esquadrinhar curiosamente todos os recantos do Paraíso. Por fim, foi ter a um lugar onde havia muitas cadeiras esplêndidas e, no centro, uma poltrona de ouro cravejada de pedras preciosas; era muito mais alta que as cadeiras circunstantes e à sua frente havia um escabelo também de ouro.

Era a poltrona onde sentava o Senhor quando estava em casa e da qual podia ver tudo o que se passava na terra. O alfaiate quedou-se a contemplá-la por algum tempo, pois ela lhe agradava mais que todo o resto. Até que, não conseguindo refrear a temerária curiosidade, foi sentar-se nela. Então viu tudo o que acontecia na terra e, particularmente, notou uma velha feia lavando roupa num regato, que subtraiu e pôs de lado dois véus. Vendo isso, o alfaiate foi tomado de tal indignação que agarrou o escabelo* de ouro e, através do Céu, lançou-o violentamente na velha ladra, lá na terra. Como, porém não podia mais ir buscar o escabelo tratou de escapulir o mais depressa possível da poltrona e correr para o seu lugar atrás da porta tudo como se nada houvesse acontecido.

Quando o Senhor e Mestre regressou com o séquito celeste para dizer a verdade não percebeu o alfaiate atrás da porta, mas ao sentar na poltrona deu pela falta do escabelo. Chamou São Pedro e perguntou-lhe onde fora parar. São Pedro não o sabia. Então perguntou-lhe se havia deixado entrar alguém.

- Não sei de ninguém que aqui entrasse - respondeu São Pedro - a não ser um pobre alfaiate coxo que ainda está esperando atrás da porta.

O Senhor mandou chamar o alfaiate e perguntou-lhe se tinha se apoderado do escabelo e onde o escondera.

- Senhor - respondeu prontamente o alfaiate - num ímpeto de raiva atirei-o na terra, atrás de uma velha que vi, daqui, roubar dois véus dentre a roupa que estava lavando.

-Seu patife! - disse-lhe o Senhor - se eu julgasse como tu, que pensas que teria acontecido desde tanto tempo? Eu não teria, desde séculos, cadeiras, poltronas, nem tenazes, porque tudo teria jogado sobre os pecadores. Por isso não podes ficar no Céu, apenas te será permitido ficar fora do portão. Vês que belo resultado? Fica sabendo que aqui ninguém pode castigar, somente eu, o Senhor!

São Pedro teve de reconduzir o alfaiate para fora do Paraíso. O alfaiate, que tinha os pés cobertos de bolhas e os sapatos rotos, se apoiou num bastão com a mão, e foi embora bem devagarinho, dizendo "Esperem um pouco", enquanto os bons soldados se sentavam de tanto rir.
__________________
Nota:
* escabelo = banquinho para descanso dos pés.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles

sábado, 14 de maio de 2016

Trova 272 - Edweine Loureiro (Saitama/Japão)

Montagem da trova sobre pintura de Dantin, "mulher na sacada com pombos".

Carolina Ramos (A Música… meu Sol!)

“A música e a Alma! ”  Esta é a união perfeita,
sem que exista maior, desde que a vida é vida!
A Música, ao nascer, já tem destino, eleita
para encantar quem chega… e abençoa-lo à partida.

Se a Música morresse… a magia desfeita
tornaria a existência amarga e tão sofrida,
sem o bálsamo amigo e sem a ideal receita
que cura qualquer mal… ou mágoa indefinida!

Se chove dentro em mim… sem que chova, lá fora,
Tenho a Música – um Sol, fiel, à minha espera!
…Afago o meu piano… as notas ganham cores,

a consolar a dor de um coração que chora.
- E… ao Sol, que me devolve a luz da primavera,
desnuda-se minha alma… envolta em sons e flores!…

Irmãos Grimm (A Alface Mágica)

Houve, uma vez, um jovem caçador que andava pela floresta à espreita de caça. Era um moço alegre e vivaz, com o coração cheio de bondade.

Andava ele distraído, assobiando tranquilamente, quando deparou sentada, sobre uma folha, uma velhinha muito feia, que lhe disse:

- Bom dia, meu bom caçador. Tu estás alegre e satisfeito, mas eu estou morrendo de fome e de sede. Dá- me uma esmolinha, por favor!

Ouvindo isso, o moço condoeu-se da sorte da velhinha, meteu a mão no bolso e deu-lhe o que trazia consigo. Em seguida, dispôs-se a continuar o seu caminho, mas a velhinha deteve-o, dizendo:

- Meu caro caçador, ouve o que te vou dizer: quero dar-te um presente pela tua generosidade. Continua andando e daqui a pouco chegarás ao pé de uma grande árvore, sobre a qual verás nove pássaros brigando por causa de um manto, que seguram com as patinhas. Aponta a tua espingarda e atira no meio deles, eles deixarão cair o manto, e com ele cairá morto também um dos pássaros. Apanha o manto, que é mágico, quando o vestires e desejares estar num lugar qualquer, ele logo te transportará. Tira o coração do pássaro morto e engole-o inteiro, assim, todas as manhãs, ao despertares, encontrarás uma moeda de ouro sob o travesseiro.

O caçador agradeceu gentilmente a velha, pensando consigo mesmo: "Belíssimas promessas! Ah, se realmente se realizassem!" E foi andando.

Não dera mais que cem passos e ouviu um pipilar estridente entre os galhos, bem em cima de sua cabeça. Ergueu os olhos e viu um bando de pássaros disputando entre si um pano, puxando-o com as patinhas e os bicos, enquanto soltavam pios e se debicavam terrivelmente, querendo cada qual ficar com o manto para si.

- Ora veja! - exclamou o caçador - exatamente como disse a velha avozinha.

Tirou a espingarda do ombro, fez pontaria e disparou sobre o bando, do qual se espalharam as penas por todos os lados. Os pássaros imediatamente fugiram, piando assustados, mas um deles caiu morto, juntamente com o manto.

O caçador apanhou-os e, conforme lhe dissera a velha, destripou a ave e engoliu o coração, sem mastigar, depois pegou o manto e foi-se embora, voltando para casa.

Na manhã seguinte, assim que acordou, veio-lhe ao pensamento a promessa da velha e quis certificar-se da veracidade de suas palavras. Levantou o travesseiro e, realmente, lá estava uma moeda de ouro brilhando intensamente. Na manhã seguinte, encontrou outra e assim foi em todas as manhãs sucessivas. Depois de juntar uma bela pilha de moedas, o rapaz pensou: "Para que me serve tanto ouro, se fico trancado aqui em casa? Quero ir-me por este mundo afora e ver outras terras."

Tendo resolvido isto, despediu-se dos pais, pegou a espingarda e o sapicuá e partiu.

Depois de muito andar, deparou com uma grande floresta, atravessou-a e, chegando à extremidade oposta, viu surgir no meio da planície um magnífico castelo. Numa das janelas estavam debruçadas uma velha e uma linda moça, olhando para baixo. A velha, que era uma bruxa, disse à moça:

- Veja, lá vem saindo um rapaz da floresta. Ele traz no corpo um precioso tesouro, meu amor, nós temos que nos apoderar dele. Isso aproveita muito mais a nós do que a ele. E' o coração de um pássaro que ele tem no estômago, graças ao qual encontra todas as manhãs uma moeda de ouro debaixo do travesseiro.

Explicou direito as coisas à moça, ensinando-lhe o que deveria fazer e, fitando-a com olhar ameaçador, concluiu:

- Ai de ti, se não me obedeceres!

Tendo-se aproximado do castelo, o caçador avistou a linda jovem e disse de si para si: "Andei tanto que estou bem cansado, preciso repousar um pouco e pedir pousada nesse castelo. Dinheiro, não me falta, tenho até demais." Mas a verdade era que seus olhos ficaram encantados com aquela beldade.

Entrou no castelo, onde foi cordialmente recebido e hospedado com grande amabilidade. Não demorou muito e se apaixonou pela linda moça, filha da bruxa, e de tal forma que já não pensava mais em nada, só via pelos olhos dela e fazia tudo o que ela lhe pedia. Então a velha, vendo como estavam as coisas, disse:

- Minha filha, agora temos que nos apoderar do coração do pássaro, verás, ele nem de leve se perceberá e não sentirá nenhuma falta.

Prepararam uma infusão e, quando ficou pronta, a velha encheu um copo, dando-o à filha para que lha levasse. A moça disse-lhe:

- Toma isto meu querido, à minha saúde!

Sem suspeitar coisa alguma, o rapaz levou o copo à boca, bebendo tudo, assim que acabou de ingerir a infusão, vomitou o coração do pássaro. A moça pegou-o disfarçadamente e engoliu-o, pois a velha assim recomendara.

Dai por diante ele nunca mais encontrou a moeda de ouro sob o travesseiro, a qual passou a brilhar diariamente sob o travesseiro da moça, onde a velha ia buscá-la todas as manhãs. O rapaz estava tão perdidamente apaixonado, que não pensava em mais nada além de poder ficar sempre ao lado da moça. Então a bruxa disse:

- O coração do pássaro já está em nosso poder, agora temos também que lhe tirar o manto mágico.

A moça respondeu:

- Deixemos-lhe ao menos isso, já que perdeu a fortuna!

A velha, porém, zangou-se e gritou:

- Um manto dessa espécie é coisa extraordinária, que muito raramente se encontra neste mundo, quero possuí-lo, custe o que custar.

Ensinou-lhe como devia proceder, acrescentando que se não lhe obedecesse, viria a arrepender-se amargamente.

A moça não tinha outra solução senão obedecer. Aproximou-se da janela e fitou o horizonte distante, fingindo uma grande tristeza. O rapaz então perguntou- -lhe:

- Por quê estás tão triste?

- Ah, meu tesouro, - respondeu ela - essa montanha que vês lá ao longe, é a montanha de rubis, toda ela está cheia dessas pedras maravilhosas. Tenho um imenso desejo de possuí-las e, sempre que olho para lá, fico muito triste. Mas, quem é que pode ir buscá-las! Somente os pássaros que voam podem ir lá e nunca um homem!

- Se é apenas essa a tua tristeza - disse o caçador - é muito fácil curá-la.

Tomou-a nos braços, sob o manto, e exprimiu o desejo de ser transportado para lá. Imediatamente foram levados os dois até ao alto da montanha. As pedras preciosas cintilavam por toda parte, numa verdadeira alegria para os olhos. Os dois apressaram-se a apanhar as mais belas e atraentes, enchendo com elas os bolsos.

Entretanto, por arte mágica da bruxa, o caçador começou a sentir as pálpebras pesarem-lhe, e então disse à moça:

- Vamos descansar um pouco, sentemo-nos aí, estou tão cansado que não aguento mais.

Sentaram-se os dois, o rapaz reclinou a cabeça no regaço dela e adormeceu. Quando o viu profundamente adormecido, ela tirou-lhe o manto, recolheu todas as pedras e rubis e desejou encontrar-se logo em casa.

Ao despertar, o caçador viu que sua amada o havia enganado, abandonando-o sozinho naquela montanha agreste.

- Oh! - exclamou, desolado - quanta perversidade existe neste mundo!

Ficou profundamente abatido e amargurado, sem saber o que devia fazer. A montanha pertencia a alguns ferozes, medonhos gigantes, que lá residiam e faziam as piores coisas. Não demorou muito, o rapaz avistou três deles, que se aproximavam a largos passos, com medo, deitou-se, fingindo-se profundamente adormecido. Os gigantes chegaram perto dele e um lhe ministrou tremendo pontapé, dizendo:

- Que espécie de vermículo é este que aí está a olhar a barriga?

Disse o segundo:

- Esmaguemo-lo!

Mas o terceiro disse, com todo o desprezo:

- Nem vale a pena! Deixai-o viver, ele não poderá viver aqui e irá certamente até ao cume, e aí as nuvens o carregarão.

Assim conversando, prosseguiram o caminho. Mas o caçador prestara bem atenção ao que tinham dito, e assim que eles se afastaram, levantou-se e trepou até ao cume da montanha. Daí a pouco, baixou uma nuvem que estava balançando no espaço, agarrou-o e levou-o consigo. Durante algum tempo, ela andou vagueando pelo azul do céu, depois foi descendo até pousar numa grande horta, toda cercada de muros, e depositou-o suavemente entre as couves e outras hortaliças.

O caçador olhou em redor e disse:

- Se tivesse ao menos alguma coisa para comer! Estou com tanta fome e não poderei continuar o meu caminho! Aqui, porém, não vejo peras, nem maçãs, nem outras frutas, não há senão hortaliças.

Por fim pensou:

- Por falta de coisa melhor, comerei um pouco de alface, não é lá muito saborosa, mas é fresca.

Escolheu uma bela cabeça de alface e pôs-se a comê- -la, mas, apenas engolira alguns bocados, sentiu uma estranha sensação e pareceu-lhe estar completamente mudado.

Cresceram-lhe quatro pernas, uma grande cabeça com duas orelhas compridas e, com imenso terror, viu que se transformara num asno. Todavia, continuava com muita fome e, graças à sua nova natureza, a alface tornou-se-lhe bem agradável e dela comeu fartamente. Chegando a outro canteiro, avistou uma espécie diferente de alface, mal apenas comeu algumas folhas, sentiu-se novamente transformado, readquirindo o aspecto humano.

Então, tendo saciado a fome, o caçador deitou-se e dormiu tranquilamente. Na manhã seguinte, ao despertar, colheu um pé de alface boa e um pé de alface ruim, pensando: "Isto me servirá para recuperar as minhas coisas e castigar a perversidade." Colocou os pés de alface no sapicuá e, saltando o muro, dirigiu-se ao castelo de sua amada.

Durante dois dias andou perambulando mas, por fim, encontrou-o. Pintou rapidamente o rosto, de modo que nem mesmo sua mãe o teria reconhecido, depois foi ao castelo e pediu pousada.

- Estou tão cansado que não posso mais ir para a frente.

A bruxa perguntou-lhe:

Quem sois e qual é vossa profissão?

- Sou um mensageiro do rei, - disse o rapaz - o qual me mandou em busca da melhor alface que existe no mundo. E tive a felicidade de encontrá-la, veja, trago-a aqui. Mas o sol está tão quente que ameaça queimar a tenra folhagem, não sei se poderei levá-la mais longe.

Ouvindo falar dessa alface melhor do mundo, a bruxa ficou com água na boca e disse:

- Meu caro campônio, deixa-me provar uma folhinha dessa maravilhosa alface, sim?

- Por quê não? - respondeu ele - levo dois pés dela, posso perfeitamente dar-vos um.

Abriu o sapicuá e tirou a alface ruim, oferecendo-a à velha. Esta não imaginou sequer que houvesse algum mal nela. A alface punha-lhe a boca cheia de água, rápida, correu à cozinha e pessoalmente a temperou.

Assim que ficou pronta não teve paciência de esperar que fosse para a mesa, ali mesmo começou a come-la. Apenas comeu algumas folhas, imediatamente perdeu o aspecto humano transformando-se em asno e saiu a correr e a pinotear pelo quintal.

Nisso a criada entrou na cozinha, viu a salada pronta e foi levá-la para a mesa, mas, pelo caminho, cheia de gulodice, tirou uma folha e comeu-a. No mesmo instante, a alface transformou-a num asno também e saiu a correr para o quintal, junto de sua ama, deixando cair o prato de salada no chão.

Enquanto isso, o caçador estava ao lado da bela jovem e, vendo que ninguém aparecia com a famosa salada, da qual ela morria de desejo, a moça disse:

- Quem sabe onde está a tal salada?

O caçador pensou: "Acho que já produziu o efeito desejado!" E, em voz alta:

- Vou até à cozinha saber o que está acontecendo.

Quando chegou lá embaixo, viu as duas mulas correndo e saltando no quintal, enquanto que o prato de alface estava largado no chão.

- Ótimo! - exclamou ele. Aquelas duas já receberam a sua parte! Apanhou as folhas que sobraram arrumou-as direitinho no prato e levou-as à moça, dizendo:

- Eu mesmo trago esta delícia, ei-la! Acho que não deveis esperar mais tempo.

Ela serviu-se avidamente e logo perdeu o aspecto humano, como as outras, e saiu a correr para o quintal, transformada em mula.

O caçador, então, foi lavar-se cuidadosamente para que elas o pudessem reconhecer, depois desceu até o quintal e disse:

- Agora recebereis o prêmio pela vossa perversidade.

Amarrou as três com uma corda e arrastou-as consigo. Logo depois chegou a um moinho, bateu à porta e o moleiro chegou à janela, perguntando o que desejava.

- Tenho aqui três jumentas indomáveis, das quais pretendo me desfazer. Se quiseres ficar com elas, providenciar forragem e comida suficiente, e tratá-las como quero eu, pagarei o que me pedires.

- Como não? - disse o moleiro - Como é que devo tratá-las?

Então o caçador disse que devia dar à jumenta mais velha - que era a bruxa, - três rações de pancadas por dia e uma ração de comida, à segunda - que era a criada, - devia dar uma ração de pancadas e três de forragem, e à terceira, - que era a moça - nem uma pancada e três rações de forragem, porque não suportava que a espancassem.

Em seguida voltou ao castelo e encontrou todas as suas coisas.

Alguns dias depois, apareceu o moleiro, dizendo que a mula velha, em conseqüência das três rações de pancadas e uma só de comida por dia, havia morrido.

- As outras duas, - continuou - ainda não morreram e continuo dando-lhes comida três vezes por dia, mas andam tão tristes que, certamente, não viverão muito.

O caçador, então, condoeu-se, esqueceu a sua raiva e disse ao moleiro que as trouxesse para o castelo. Quando chegaram, deu às duas algumas folhas de alface boa e imediatamente elas readquiriram o aspecto normal.

A linda moça caiu-lhe aos pés, soluçando, e disse-lhe:

- Meu amor, perdoa-me o mal que involuntariamente te causei, fui obrigada por minha mãe, mas arrependo-me sinceramente, porque te amo de todo o coração. O teu manto mágico está guardado no armário, quanto ao coração do pássaro tomarei qualquer coisa que me faça vomitá-lo.

O rapaz então mudou de idéia e exclamou:

- Podes ficar com ele, é a mesma coisa, porque serás a minha querida e fiel esposa.

Pouco depois, casaram-se e viveram extremamente felizes até o fim da vida.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/

terça-feira, 10 de maio de 2016

Trova 271 - Edweine Loureiro (Saitama/Japão)


Olivaldo Junior (Um anjinho português)

A pequena crônica que lhe escrevo agora é de um anjinho que conheci dobrando a rua de casa, quando eu ia para o trabalho. Ninguém mais o viu, só eu. Cabelos encaracolados, cheirando a azeite extravirgem, era, sem talvez, um anjinho português.

Pediu, por gentileza, que eu lhe desse um tostão de meu tempo para ouvi-lo, e ele embarcou comigo no "bus" que tomo todas as manhãs. Sentadinho ao meu lado, contou-me que seus amigos lusitanos, outros anjos como ele, o deixaram cá, neste Brasil de meu Deus, para ver se se arranjava melhor, ficando mais independente, mas ele queria ter o sal do mar de Camões.

O anjinho, numa virada mais brusca, invocou Nossa Senhora de Fátima, pedindo a ela que nos guardasse a todos, como aqueles três pastores que a avistaram e, dos olhos, nunca mais a tiraram. Amém, eu lhe disse. E ele estava com saudade.

Fazia tempo que não comia um bom bacalhau, nem pasteizinhos de Belém, muito menos toucinhos do céu, e sentia falta de um cálice de vinho do Porto, para abrir seu apetite, celestial e europeu, ora pois! O pobre, em vez de harpa, era a guitarra portuguesa que entoava, trazendo à tona velhos fados, lindos e tristes, que um marujo português ensinara a ele outra noite, lá.

Quando o ônibus chegava perto de meu trabalho, o anjinho, declamando Pessoa, sumiu no ar como a fumaça de alvas nuvens, altas demais para o nosso entendimento, e nunca mais o vi. No banco, uma pena, verde-rubra, me deixou, e "só"...

Fontes:
O Autor
Imagem = http://cantinhodoceu.wordpress.com

Irmãos Grimm (A Água da Vida)

    Houve, uma vez, um rei muito poderoso, que vivia feliz e tranquilo em seu reino. Um belo dia, adoeceu gravemente e ninguém tinha esperanças de que escapasse. Ele tinha três filhos, os quais estavam deveras consternados vendo que o estado do pai piorava dia a dia.
    Encontravam-se eles no jardim do castelo a chorar e, de repente, viram surgir à sua frente um velho de aspecto venerável, que indagou a causa de tamanha tristeza. Disseram-lhe que estavam aflitos porque o pai estava gravemente enfermo e os médicos já não tinham esperanças de o salvar.
    O velho, então, disse-lhe:
    - Eu conheço um remédio muito eficaz, que poderá curá-lo. É a famosa Agua da Vida. Mas é muito difícil obtê-la.

    O filho mais velho disse:
    - Hei de encontrá-la, custe o que custar.

    Dirigiu-se, imediatamente, aos aposentos do rei, expôs-lhe o caso e pediu permissão para ir em busca dessa água, a única coisa que poderia salvá-lo.

    - Não, - disse o rei - sei bem que essa água maravilhosa existe, mas há tantos perigos a vencer antes de chegar à fonte, que prefiro morrer a ver um filho meu correndo esses riscos.

    O príncipe, porém, insistiu tanto que o pai acabou por consentir. Em seu íntimo, o príncipe ia pensando: "Se conseguir a água, tornar-me-ei o filho predileto e assim herdarei o trono."
    Partiu, pois, montado em rápido corcel, na direção indicada pelo velho. Após alguns dias de viagem, ao atravessar uma floresta, viu um anão mal vestido, que o chamou, perguntando:

    - Aonde vais com tanta pressa?
    - Que tens tu com isso, homúnculo ridículo? - respondeu altivamente o príncipe sem deter o cavalo - não é da tua conta.

    O anãozinho enfureceu-se e rogou-lhe uma praga. Pouco mais adiante, o príncipe viu-se entalado entre duas barrancas; quanto mais andava, mais se estreitava o caminho, até que, tendo-se o atalho apertado demais, não pode mais avançar, nem recuar, nem voltar o cavalo, nem descer. Ficou ali aprisionado, sofrendo fome e sede, mas sem morrer.
    O rei aguardou sua volta durante muitos dias, mas em vão. O segundo filho, julgando que o irmão tivesse morrido, ficou contentíssimo, pois assim seria ele o herdeiro do trono.
    Foi ter com o pai e pediu-lhe permissão para ir em busca da Agua da Vida. O rei respondeu o mesmo que havia respondido ao primeiro; por fim, ante a insistência do rapaz, acabou cedendo. O segundo príncipe, então, montou a cavalo e seguiu pelo mesmo caminho.
    Após alguns dias, quando atravessava a floresta, surgiu-lhe o anão mal vestido, que lhe dirigiu a mesma pergunta:

    - Para onde vais com tanta pressa?
    - Oh, nojento pedaço de gente! Sai da minha frente se não queres que te espezinhe com o meu cavalo.

    O anão afastou-se e rogou-lhe a mesma praga que ao primeiro; assim, o príncipe acabou entalado nas barrancas como o outro irmão, sem poder avançar, recuar ou fazer qualquer movimento, sendo assim castigados os dois orgulhosos.
    Passados muitos dias e vendo que os irmãos não voltavam, o filho mais moço foi pedir licença ao pai para ir buscar a Água da Vida. O rei não queria consentir, mas, ante as insistências reiteradas do moço, foi obrigado a ceder.
    O jovem príncipe montou em seu belo cavalo e partiu; quando encontrou o anão na floresta, que lhe perguntou aonde ia com tanta pressa, o jovem, que era delicado e amável, deteve o cavalo dizendo:

    - Vou em busca da Agua da Vida, o único remédio que pode salvar meu pobre pai, que está à morte.
    - Sabes onde se encontra? - perguntou o anão.
    - Não! - respondeu o príncipe.
    - Pois bem; já que me respondeste com tanta amabilidade, - disse o anão - vou indicar-te o caminho que deves tomar. Ao sair da floresta não te metas pelo desfiladeiro que vires pela frente; vira à esquerda e segue até encontrares uma encruzilhada; aí segue ainda a esquerda. Depois de dois dias de marcha, encontrarás diante de ti um castelo encantado: é no pátio desse castelo que se acha a fonte da Agua da Vida. O castelo está fechado por um grande portão de ferro maciço; mas basta tocá-lo três vezes com esta varinha que te dou para que se abra de par em par. Assim que entrares verás dois leões enormes prestes a lançarem-se sobre ti para te devorar; atira-lhes estes dois bolos para apaziguá-los; aí corre ao parque do castelo e vai buscar a Água da Vida antes que soem as doze badaladas, senão o portão fecha-se e tu ficarás lá preso.

    O príncipe agradeceu, gentilmente, ao anão, pegou a varinha e os dois bolos e se pôs a caminho; e conforme as suas indicações chegou diante do castelo. Com a varinha mágica bateu três vezes no imenso portão e este abriu- se; ao entrar, os dois leões arremessaram-se contra ele de bocas escancaradas, mas apaziguou-os, atirando-lhes os bolos, e assim não sofreu mal algum. Antes de dirigir-se à fonte da Água da Vida, o príncipe não resistiu à tentação de ver o que havia no interior do castelo cujas portas estavam abertas; galgou a escadaria e entrou. Viu uma série de salões grandes e luxuosíssimos; no primeiro deles viu, imersos em sono letárgico, uma multidão de fidalgos e criados. Sobre uma mesa avistou uma espada e um saquinho de trigo; teve um pressentimento que esses objetos lhe poderiam ser úteis e levou-os consigo.
    Passando de um salão para outro, no último deu com uma princesa de beleza deslumbrante, a qual se levantou e disse-lhe que, tendo conseguido penetrar no castelo, destruira o encanto que pesava sobre ela e todos os súditos do seu reino; mas o efeito do encantamento só cessaria mais tarde.
   
    - Dentro de um ano, dia por dia, - disse ela - se voltares aqui serás meu esposo.

    Depois indicou-lhe onde estava a fonte da Água da Vida e despediu-se dele, recomendando-lhe que se apressasse para poder sair do castelo antes de o relógio da torre bater as doze badaladas do meio-dia, porque nesse momento exato os portões se fechariam.
    O príncipe percorreu em sentido inverso os numerosos salões por onde passara, até que um deles viu uma belíssima cama com as roupas muito alvas e rescendentes; como estivesse cansadíssimo da longa caminhada, sentiu-se tentado a descansar um pouco, deitou-se para tomar um breve repouso e adormeceu. Felizmente mexeu- se e fez cair no chão a espada que colocara ao seu lado; o barulho despertou-o em tempo, pois perdendo a hora ficaria prisioneiro no castelo.
    Levantou-se depressa; faltava apenas um minuto para o meio-dia e mal teve tempo de correr ao parque, encher um frasco com a preciosa água e fugir.
    Transpondo os batentes da entrada, soou o relógio dando meio-dia; o portão fechou-se com estrondo e tão rapidamente que ainda apanhou um tacão do príncipe arrancando-lhe uma espora.
    O príncipe estava no auge da felicidade por ter conseguido a água milagrosa que salvaria a vida do seu amado pai; e ansioso de ver-se no palácio pulou sobre a sela e partiu a galope. Na floresta, encontrou o anão no mesmo lugar, o qual, ao ver a espada e o saquinho de trigo, lhe disse:

    - Fizeste bem em guardar esse precioso tesouro! Com essa espada poderás sozinho vencer os exércitos mais numerosos; e com o trigo desse saquinho terás todo o pão que quiseres e nunca se lhe verá o fundo.

    Encantado por conhecer os dons prodigiosos da espada e do saquinho, estava contudo apoquentado com a ideia da desgraça dos irmãos; perguntou ao anão se não poderia fazer algo por eles.

    - Posso, - respondeu o anão - ambos estão pouco distantes daqui, entalados entre barrancas muito apertadas; amaldiçoei-os por causa do seu orgulho e insolência.

    O príncipe rogou, encarecidamente, que lhes perdoasse e os libertasse, e tanto insistiu que o anão cedeu às suas súplicas.

    - Mas advirto-te que te arrependerás. - disse o anão - Não te fies neles; são de mau coração; liberto-os apenas para te ser agradável.

    Assim dizendo, o anão fez as barrancas se afastarem deixando os entalados em liberdade; pouco depois reuniram-se ao irmão, que os estava esperando. Muito feliz por os tornar a ver, o príncipe logo lhes narrou as suas aventuras e disse-lhes que daí a um ano voltaria novamente ao castelo para desposar a maravilhosa princesa e reinar com ela sobre um grande país.
    Depois puseram-se os três a caminho de regresso para casa. Atravessaram um reino que estava assolado pela fome e pela guerra, estando o rei já desesperado de poder salvar-se e ao seu povo. O bom príncipe então confiou ao rei o saco de trigo e a espada mágica; com esses objetos, o rei conseguiu derrotar os exércitos invasores e encher todos os celeiros, até ao forro, do precioso cereal. O príncipe tornou a receber a espada e o saquinho e os três irmãos continuaram na viagem; para encurtar caminho e rever mais depressa o pai, resolveram tomar um navio.
    Durante a travessia, os dois irmãos mais velhos, devorados de ciúmes, começaram a conspirar contra ele:

    - Nosso irmão conseguiu a Água da Vida e nós não, com isso nosso pai o promoverá a herdeiro único do trono, que deveria ser nosso, e a nós nada tocará.

    Então juraram perdê-lo. De noite, quando ele dormia a sono solto, furtaram-lhe o frasco e substituíram a Água da Vida por outra salgada. Tentaram também roubar-lhe a espada e o saquinho de trigo mas, quando iam apoderar-se deles, os objetos desapareceram de repente.
    Quando chegaram em casa, o jovem correu para o pai e apresentou-lhe o frasco para que bebesse e logo ficasse bom. O rei, mal engoliu alguns goles daquela água salgada, achou o gosto horrível e piorou sensivelmente. Estava ele se lastimando quando chegaram os dois filhos mais velhos e acusaram o irmão de ter querido envenenar o pai. Eles, porém, traziam-lhe a verdadeira Agua da Vida e lha ofereceram. Apenas bebeu alguns goles, pôde logo levantar-se do leito, cheio de vida e de saúde, como nos tempos de sua juventude. O pobre príncipe, expulso da presença do pai, entregou-se ao maior pesar. Os dois mais velhos vieram ter com ele e, rindo e mofando, disseram-lhe:

    - Pobre tolo! Tu tiveste todo o trabalho e conseguiste encontrar a Agua da Vida, mas nós tivemos o proveito. Devias ser mais esperto e manter os olhos abertos. Enquanto dormias a bordo, trocamos o frasco por outro de água salgada. E poderíamos, se quiséssemos, ter-te atirado ao mar para nos livrarmos de ti, mas tivemos dó. Livra-te, contudo, de reclamar e contar a verdade ao nosso pai, que não te acreditaria; se disseres uma só palavra não nos escapas, perderás a vida. Também não penses em ir desposar a princesa daqui a um ano, ela pertencerá a um de nós dois.

    O rei estava muito zangado com o filho mais moço, julgando que o tivesse querido envenenar. Convocou, portanto, os seus ministros, e conselheiros e submeteu- lhes o caso. Foram todos de opinião que o príncipe merecera a morte e o rei decidiu que fosse morto secretamente por um tiro. E partindo o moço para a caça sem suspeitar de nada, um dos criados do rei foi encarregado de o acompanhar e matá-lo na floresta. Quando chegaram ao lugar destinado, o criado, que era o primeiro caçador do rei, estava com um ar tão triste que o príncipe indagou a razão daquilo:

    - Que tens, caro caçador?
    - Proibiram-me falar, mas devo dizer tudo. - respondeu o caçador.
    - Dize então o que há, nada temas.
    - Estou aqui por ordem do rei e devo matar-vos.
    O príncipe sobressaltou-se, mas disse;
    - Meu amigo, deixa-me viver. Dar-te-ei meus belos trajes em recompensa e tu me darás os teus, que são mais pobres.
    - Da melhor boa vontade. - disse o caçador.
    - Ê preciso que o rei julgue que executaste as suas ordens, - disse o príncipe - senão a sua cólera recairá sobre ti. Vestirei essas roupas feias e tu levarás as minhas como prova de que me mataste. Em seguida, abandonarei para sempre este reino.

    Assim fizeram.
    Pouco tempo depois, o rei viu chegar uma embaixada faustosa do rei vizinho, incumbida de entregar ao bom príncipe os mais ricos presentes em agradecimento por ter ele salvo o reino da fome e da invasão do inimigo. Diante disso, o rei pôs-se a refletir:

    - Meu filho seria inocente? - e comunicou aos que o serviam: - Como me arrependo de o ter mandado matar! Ah, se ainda estivesse vivo!

    Então, encorajado por essas palavras, o caçador revelou a verdade. Disse ao rei que o bom príncipe estava com vida, mas em lugar ignorado. Imediatamente o rei mandou um arauto proclamar em todo o pais que considerava o filho inocente e que desejava, imensamente, que ele voltasse para casa. Mas a notícia não chegou ao príncipe. Encontrara seu amigo anão, que lhe dera ouro suficiente para poder viver como um filho de rei.
    Nesse ínterim, a princesa do castelo encantado, que ele livrara do sortilégio, mandara construir uma avenida toda calcetada com chapas de ouro maciço e pedras preciosas, a qual conduzia diretamente ao castelo, explicando aos seus vassalos:

    - O filho do rei que será meu esposo não tardará a chegar, virá a galope bem pelo meio da avenida. Mas se outros pretendentes vierem, cavalgando à beira da estrada, expulsem-nos a chicotadas.

    Com efeito, dia por dia, um ano depois do jovem príncipe ter penetrado no castelo, o irmão mais velho achou que podia apresentar-se como sendo o salvador e receber a princesa por esposa. Ao atravessar o portão e vendo aquela avenida calçada no meio de ouro e pedrarias, não quis que o cavalo estragasse com as patas tanta riqueza, que ele já considerava suas, e fez passar o animal pelo lado de fora. Mas, quando chegou diante do portão do castelo, dizendo que era o noivo da princesa, todos riram e depois correram-no de lá a chicote.
    Pouco tempo depois, vinha também o segundo príncipe e, quando chegou à entrada do castelo, vendo todo aquele ouro e joias, pensou que seria um pecado arruiná-los. Deixou, portanto, o cavalo galopar pelo lado esquerdo e apresentou-se como sendo o noivo da princesa. Teve a mesma sorte que o irmão mais velho: foi corrido a chicote.
    Estava justamente findando o ano estabelecido e o terceiro príncipe resolveu deixar a floresta para ir ter com sua amada e ao seu lado esquecer suas mágoas.
    Pôs-se a caminho, só pensando na felicidade de tornar a ver a linda princesa. Ia tão embevecido que nem sequer viu que a estrada estava toda coberta de pedras preciosas. Deixou o cavalo galopar pelo meio da avenida e, quando chegou diante do portão do castelo, este foi-lhe aberto de par em par. Soaram alegres fanfarras e uma multidão de fidalgos saiu para recebê-lo. Dentro em pouco, apareceu a princesa, deslumbrante de beleza, que o acolheu cheia de felicidade, declarando a todos que ele era seu salvador e senhor daquele reino. E as núpcias foram imediatamente realizadas em meio a esplêndidas festas.
    Depois de terminadas as festas, que duraram muitos dias, ela contou-lhe que seu pai o havia proclamado inocente e desejava vê-lo de novo.
    Acompanhado da rainha, sua esposa, ele foi ter com o pai e contou-lhe tudo quanto se passara. Como fora traído pelos irmãos e como estes o obrigaram a calar-se.
    O rei, extremamente irritado contra eles, mandou que seus arqueiros os trouxessem à sua presença a fim de receberem o castigo merecido, mas vendo suas maldades descobertas, eles tinham tomado um barco tentando fugir para terras longínquas para aí esconderem sua vergonha. Não o conseguiram. Sobreveio uma tremenda tempestade, que tragou o navio, e eles pereceram miseravelmente.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/grimm_contos/titles

domingo, 8 de maio de 2016

Primeiros Jogos Florais do Peru 2016 (Resultado Final)


Por uma sociedade livre de violência

Promovidos por El Presidente Javier Matos Quintanilla
Delegado da União Brasileira de Trovadores UBT -Peru
Delegado Cultural UNILETRAS- Gestor Sementes de Juventude.

TEMA: Violência

Troféu César Abraham Vallejo Mendoza

VENCEDORES:

1º Lugar:
Se a poesia te renova,
e a violência não te apraz...
Sê mensageiro da trova,
pombo-correio da paz!
Prof. Garcia
-
2º Lugar:
A violência respondida
simplesmente com amor
desarma e cura a ferida
do mais cruel agressor.
Edweine Loureiro da Silva
-
3º Lugar:
Sonho um mundo sem violência,
onde um dia poderei
ver que a humana convivência
nem precisa mais de lei.
Antonio Augusto de Assis
-

4º Lugar:
Que inominável violência
entre dois mundos distintos:
um, em que impera a opulência
outro, os sem-teto e os famintos!
Wanda de Paula Mourthé
-
5º Lugar:
Com violência, não se joga.
O vício, a vida desfaz...
Larga o cachimbo da droga,
fuma o cachimbo da paz!
Prof. Garcia
-
MENÇÃO HONROSA:

Ao se usar a violência,,
todo o bom senso diria
que é falta de inteligência,
ou ato de cobardia.
António Barroso (Portugal)
-
A violência consentida
no reino dos animais,
não pode ser concebida
no mundo dos racionais.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
-
Somos contra a violência
não por medo ou covardia;
mas por termos consciência
de que a paz gera harmonia.
Adamo Pasquarelli
-
Quem abusa da inocência
de uma indefesa criança
comete dupla violência:
fere a pureza e a esperança.
Antonio Augusto de Assis
-
O ódio e o egoísmo consomem
nossos laços de união.
- Só há violência onde o homem
não vê o irmão como irmão.
Maria Luiza Walendowsky
-
MENÇÃO ESPECIAL:

Por faltar ao mundo a "essência"
que faz germinar o amor,
cresce o "Joio" da violência
e o "trigo" morre de dor.
Wandira Fagundes
-
Violência nunca se aceita
e a que o mal maior alcança
vem daquela quando é feita
a uma inocente criança!
José Antônio de Freitas
-
Um gesto tem seu valor
de acordo com a procedência:
nos lábios de um opressor
até um sorriso é violência!
Arlindo Tadeu Hagen
-
À violência se cale.
Resista... e recolha os cacos,
pois “dar o troco” equivale
a se nivelar aos fracos.
Heder Rubens Silveira e Souza
-
Velho ditado alardeia
com profunda sapiência:
“quem violência semeia
só vai colher violência. ”
Antonio Claret Marques
-
TROVAS DESTAQUE

Enfrentando violência,
que o Homem seja capaz
de usar, com plenipotência,
Forças Armadas de Paz!
Dodora Galinari
-
Em dois mil e dezesseis,
tenhamos mais consciência,
melhorando nossas leis
no combate à violência!
Delcy Canalles
-
A violência aparece
em todos cantos do mundo,
por que este mundo sem prece
é cada vez mais imundo.
Plácido Ferreira do Amaral Júnior
-
Pasmem! - dizem as manchetes -
Violência de hora em hora!
E nem sempre, nas enquetes,
as agressões vêm de fora!
Lisete Johnson
-
Se com armas presenteias
a criança, sem prudência,
estás pondo em suas veias
o vírus da violência.
Dalva Maria de Araújo Sales

Olivaldo Júnior (Branco)

Pintura de Van Gogh
Era homem, jamais pintaria o cabelo!... Porém, desde que, de repente, como quem vê um fantasma, se deparou com aquele branco fio de cabelo, intruso, na cabeça, não sossegou e, às escondidas, passou a pintar a, outrora, negra cabeleira.

Tentava esconder a passagem do tempo em seus cabelos, mas o tempo também deixa brancos a memória e seu presente, o que vivemos e nem vimos viver. Dizem que o branco reúne em si todas as cores... Ou seria o preto? Ih, me "deu branco"...

Era um homem que tinha vivido pouco, nem saberia nos dizer quantas vezes perdera o bonde da vida e, pé ante pé, palmilhara a escuridão com os olhos brancos, brancos de medo. Se a vida é um cheque em branco, no dele não tinha cifras.

À noite, quando o branco da lua iluminava sua alma, punha palavras negras na folha em branco do computador, sempre ávido por outras sílabas, outras formas de vencer o escuro com a luz, ainda baça, de um texto novo, recém-nascido, nu.

Pintava seu cabelo como se dissesse a si mesmo no espelho que ainda tinha tempo para o azul do existir, o rubro do amor, o verde, a esperança! E o amarelo das fotos, onde ficava? No branco dos olhos, na cinza das horas, tingido, fingido por ele e pelas mãos que ainda almejam ter outras nas suas... Virei (Vixi!), isto é, virou-se o pote de tinta!... Logo viria outro fio. Branco.

Fonte:
O Autor

Irmãos Grimm (O Noivo Bandido)

  
  Houve, uma vez, um moleiro que tinha uma filha, muito bonita; quando ela atingiu a idade de casar, o pai decidiu arranjar-lhe um bom casamento, e pensava: "Se aparecer um pretendente em condição e a pedir em casamento, dou-lhe."
    Não demorou muito, apareceu um pretendente, que demonstrava ser muito rico, e o moleiro, não achando inconveniente algum, prometeu dar-lhe a filha.
    A moça, porém, não o amava como deve ser amado um noivo, e não tinha nem um pouco de confiança nele. Cada vez que o via ou que pensava nele, sentia-se dominada por inexplicável repulsa. Um dia, disse o noivo:
    - És minha noiva e nunca me visitas!
    - Não sei onde é a vossa casa. - respondeu a moça.
    - A minha casa, - disse ele, - fica bem no âmago da floresta.
    Ela pretextou que não conseguiria encontrar o caminho para ir lá, mas ele insistiu:
    - Eu já convidei as outras visitas, para que possas te orientar, espalharei cinzas no caminho da floresta.
    No domingo, quando a moça estava pronta para sair, sentiu grande medo, sem saber por quê e, para marcar bem o caminho, encheu os bolsos com lentilhas e ervilhas. Logo na entrada da floresta, viu as cinzas espalhadas; foi seguindo por ela, mas a cada passo ia deixando cair, de cada lado do caminho, um grão de ervilha e de lentilha.
    Andou quase o dia inteiro, até que, por fim, chegou ao âmago da floresta; aí estava uma casa solitária, que nada lhe agradou, pois lhe parecia tenebrosa e inquietante.
    Entrou; não havia ninguém lá dentro e reinava o mais profundo silêncio. De repente, uma voz gritou:

    Foge, foge. bela noivinha,
    de salteadores é esta casinha.

    A moça ergueu os olhos e viu que a voz partia de um pássaro preso numa gaiola dependurada na parede. Ele gritou novamente:

    Foge, foge. bela noivinha,
    de salteadores é esta casinha.

    A noiva, então foi de um quarto para outro, percorrendo toda a casa, sem encontrar alma viva. Finalmente, chegou à adega. Viu lá sentada uma velha decrépita, cuja cabeça tremia.
    - Podeis dizer-me se mora aqui meu noivo? - perguntou a moça.
    - Ah, pobre menina! - respondeu a velha, - onde vieste cair! Num covil de salteadores. Tu te julgas uma noiva em vésperas de casamento, mas tuas núpcias serão com a morte. Vê? Preparei no fogo um grande caldeirão com água; se cais nas mãos deles, serás picada impiedosamente em pedaços, depois cozida e devorada, pois eles são canibais. Se eu não me apiedar de ti, estarás perdida.
    A velha, então, ocultou-a atrás de um tonel, onde não seria vista.
    - Fica aí quietinha, como um ratinho, não te mexas e não dês sinal de vida; se não estás perdida! Esta noite, quando os salteadores estiverem dormindo, fugiremos as duas; há tanto tempo que venho aguardando a oportunidade!
    Mal acabara de falar, chegou o bando de salteadores; vinham arrastando junto uma outra jovem; bêbados como estavam, não se impressionavam com seus gritos e lamentos.
    Obrigaram-na a beber três copos cheios de vinho, um branco, um vermelho e um amarelo; com isso, partiu-se-lhe o coração. Arrancaram-lhe as belas roupas, deitaram-na sobre a mesa, cortaram em pedaços seu lindo corpo e o salgaram.
    A pobre noiva, atrás do tonel, tremia como vara verde; via com os próprios olhos o destino que lhe reservavam os bandidos.
    Um deles, vendo brilhar um anel no dedinho da morta, tentou arrancá-lo; não o conseguindo tão facilmente, pegou no machado e decepou o dedo que, dando um pulo no ar, foi cair atrás do tonel, bem no colo da noiva. O bandido pegou num candeiro e pôs-se a procurá-lo, mas inutilmente. Então um outro disse-lhe:
    - Já procuraste atrás do tonel?
    Mas a velha gritou:
    - Venham comer, vós o procurareis amanhã; o dedo não foge, não!
    - A velha tem razão - disseram eles.
    Deixaram de procurar e foram sentar-se à mesa para comer; então a velha pingou um sonífero dentro do vinho; tendo bebido, todos adormeceram e começaram a roncar fortemente.
    Ouvindo-os roncar, a noiva saiu do esconderijo e teve que pular por sobre os corpos estendidos no chão, com um medo horrível de acordar algum. Mas, com o auxílio de Deus, conseguiu passar. A velha saiu com ela, abriu a porta e ambas fugiram o mais depressa possível do covil dos assassinos. O vento levara a cinza, mas os grãos de ervilha e de lentilha haviam brotado e, como o luar estava bem claro, elas seguiram o caminho indicado.
    Andaram a noite toda e só chegaram ao moinho pela manhã. A jovem contou ao pai tudo o que acontecera, sem omitir nada.
    Quando chegou o dia do casamento, o noivo apresentou-se. O moleiro, porém, convidara todos os parentes e amigos. Na mesa, durante o banquete, cada conviva teve de contar uma história. A noiva, sentada ao lado do noivo, nada dizia. Então, o noivo voltou-se para ela.
    - E tu, meu coração, nada tens a contar? Narra uma história qualquer!
    - Bem, contarei um sonho que tive! - disse ela.
    "Ia andando sozinha por uma floresta e fui parar numa casa, solitária. Dentro não havia ninguém, apenas um pássaro preso numa gaiola dependurada na parede, o qual, vendo-me, gritou:
    Foge, foge, bela noivinha,
    de salteadores é esta casinha.
    Gritou isso duas vezes.
   
    - Meu amor, é apenas um sonho!

    - Percorri os quartos e todos estavam vazios e fúnebres! Finalmente, fui ter à adega e lá estava uma velha decrépita sentada, a cabeça a lhe tremer; perguntei-lhe:
    "Mora aqui o meu noivo?"
    "Ah! pobre menina, - respondeu-me ela, - caiste num covil de assassinos! Teu noivo mora aqui, mas tu serás assassinada, cortada em pedaços, cozida e devorada.

    - Meu amor, é apenas um sonho!

    - A velha ocultou-me atrás de um tonel; mal me escondera, chegaram os bandidos, arrastando consigo uma moça; deram-lhe a beber três copos de vinho, um branco, um vermelho e um amarelo, e, com isso, partiu-se-lhe o coração.

    - Meu amor, é apenas um sonho!

    - Depois arrancaram-lhe as belas roupas, deitaram-na sobre a mesa, cortaram em pedaços seu lindo corpo e o salgaram.

    - Meu amor, é apenas um sonho!

    - Um dos bandidos viu um anel no dedinho dela e, achando difícil arrancá-lo, decepou o dedo com o machado; mas o dedo, dando um pulo no ar, foi cair atrás do tonel, justamente no meu colo. Ei-lo aqui.
    Assim dizendo, tirou do bolso o dedinho e mostrou- o a todos os presentes.
    O bandido, que durante a narrativa ficara branco como um pano lavado, pulou da cadeira e tentou fugir; mas os convidados agarraram-no e o entregaram à justiça.
    Ele e todo o bando foram condenados e justiçados, pagando assim seus terríveis crimes.

Fonte:
http://www.grimmstories.com/pt/

sábado, 7 de maio de 2016

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas "Trovia" - n. 191 - maio de 2016)



Só Deus tem uma resposta
mas ninguém sabe qual é.
A nossa vida é uma aposta
que se joga com a Fé.
Ademar Macedo
-
Não sei que mais me fascina,
que mais me traz entre abrolhos:
se os olhos dessa menina,
se as meninas desses olhos...
Belmiro Braga
-
Garoando... garoando...
essa garoa, sem fim,
é qual saudade pingando
lembranças dentro de mim...
Gioconda Labecca
-
Esperança é qualquer cousa
que não se pode explicar;
que a gente quer, mas não ousa,
com medo de se enganar.
Helena Ferraz
-
Em meio a desesperanças
de sonhos que o tempo esmaga,
se eu trago muitas lembranças,
tua lembrança me traga.
João Freire Filho
-
Bate o relógio sisudo,
mede a vida com rigor,
e o tempo, que vence tudo,
não vence a força do amor.
José Lucas de Barros
-
De todas as despedidas,
esta é a mais triste, suponho:
duas almas comovidas,
chorando a morte de um sonho!
Joubert de Araújo e Silva
-
Fiz o bem na vida, a esmo,
sem sequer olhar a quem...
E, esquecendo de mim mesmo,
fiz a mim o melhor bem!
Luiz Otávio
-
O papel é a sua arena,
o seu mundo pequenino;
movendo o poeta a pena,
por vezes move o destino...
Newton Meyer
-
Não hesites aguardando
o beijo que ela não der:
há sempre um beijo esperando
nos sonhos de uma mulher!
Nydia Iaggi Martins
-
A ventura é uma quimera
que estranhos caprichos tem,
pois vem quando não se espera,
quando se espera não vem.
Petrarca Maranhão
-
Quis-te um dia, mas fugiste;
me quiseste e o mesmo fiz.
Quando enfim nós nos quisemos,
foi a vida que não quis...
Zálkind Piatigórsky
===============
Obrigado, Ademar Schiavone, pela sua vida bonita,
pelo seu amor às letras, pelo seu amor a Maringá!

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Por ironia, um defeito
a manicure consome:
não consegue dar um jeito
no marido “unha-de-fome”!
Arlindo Tadeu Hagen – MG
-
Senhor, em minha oração,
eu peço em termos exatos:
– Fazei que os maus sejam bons
e os bons sejam menos chatos...
(Autor não identificado)
-
A mulher do amolador,
que é fofoqueira afamada,
diz que casou sem amor
só pra ter língua afiada!
Clenir N. Ribeiro – RJ
-
Sem sapato... madrugada...
Ao entrar, pé, ante pé,
fui – que ironia danada –
traído pelo... chulé!
João Paulo Ouverney – SP
-
Eu já dei muita boiada
para evitar confusão...
Hoje, com fome danada,
por um bife... eu sento a mão!
Joaquim Carlos – RJ
-
Minha prenda o ardor respinga
por onde passa...  ela é arisca...
É que nem pedra de binga:
se tu risca sai faísca.
Jota José – RJ
-
Ganhei um "dogue alemão",
mas é tão mole o safado,
que, se eu quiser proteção,
só dublando o condenado!
Sérgio Ferraz – RJ
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O céu deve estar cheinho
de madrinhas, mães e avós...
– Têm lá, em dobro, o carinho
com que cuidaram de nós!
A. A. de Assis – PR
-
Eu canto triste no canto
saudades do teu amor;
porém, se ouvires meu canto,
darei graças ao Senhor.
Agostinho Rodrigues – RJ
-
Tão forte nos abraçamos,
confundidos no entrelaço,
que eu acho até que trocamos
de corações nesse abraço!
Almerinda Liporage – RJ
-
Sei que a vida é muito dura
e por isso não me iludo,
mas sonhar não se segura
e em sonhos alcanço tudo!
Almir Pinto de Azevedo – RJ
-
Bem-te-vi, que bom te ver!
Vim aqui pra te encontrar...
Pousa no meu pé de ipê;
quero ouvir o teu cantar.
A.M.A. Sardenberg – RJ
-
O meu melhor agasalho
é o colo de minha amada,
pois quando nele me encalho
não temo o frio ou geada!
Amilton Maciel Monteiro – SP
-
No clarão da velha chama,
de ritmos e de valores,
curitibano conclama:
– Rimai por nós, trovadores!
Andréa Motta – PR
-
Viver fiado em quimera
é coisa que não convém
porque de onde não se espera...
de lá mesmo é que não vem!
Antônio Juraci Siqueira – PA
-
A paixão é traiçoeira,
dizem que pode matar.
Eu digo que é só coceira
gostosa de se coçar.
Ari Santos de Campos – SC
-
Ferem sim, mas quero tê-las
ao longo da caminhada:
ilusões, cacos de estrelas
que enchem de luz minha estrada!
Carolina Ramos – SP
-
Coragem é um predicado
para um homem de valor;
audácia é quase pecado:
tu és quase um pecador.
Cida Vilhena – PB
-
Rasguei carta, telegrama,
fotos, bilhetes de amor,
mas ao deitar nesta cama,
rasga-me o peito esta dor!
Conceição de Assis – MG
-
Ouvir e ver as estrelas,
sonhara, enfim, o profeta.
Se Bilac falou com elas,
vale a pena ser poeta!
Cônego Telles – PR
-
Era un niño silencioso...
Con la mirada me amaba,
y con un beso amoroso
¡sin tocarme me besaba!
Cristina Olivera Chávez – USA
-
Na porteira envelhecida,
o “X” que a mantém de pé
parece os braços da vida
sustentando a nossa fé.
Dáguima Verônica – MG
-
Tenho momentos tristonhos
e às vezes nem sei por quê;
é que o príncipe que sonho
mem mesmo em sonhos se vê.
Delcy Canalles – RS
-
Saudade – eterna pontada
que a gente sente e não diz;
uma lembrança apagada
do tempo em que foi feliz!
Diamantino Ferreira – RJ
-
Enquanto proles “distintas”
esbanjam pão e agasalho,
milhões de bocas famintas
vivem clamando trabalho.
Djalma da Mota – RN
-
A estrela ainda reluz,
e a madrugada artesã
cose retalhos de luz
no alvo lençol da manhã.
Domitilla Borges Beltrame – SP
-
Que bela seria a vida
se acima de ódios mortais,
uma ponte fosse erguida
unindo margens rivais!
Dorothy Jansson Moretti – SP
-
Amigo é um irmão de fé,
que, nas quedas dos caminhos,
discreto nos põe de pé
e diz que agimos sozinhos...
Edmar Japiassú Maia – RJ
-
Minhas rotas saltimbancas
oscilam nesta escalada:
há nuvens amenas, brancas,
outras balançam-me a escada.
Eliana Jimenez – SC
-
Olho o céu: são tantos astros,
que não cabem no meu verso.
As estrelas deixam rastros:
purpurinas do universo!
Eliana Palma – PR
-
O meu deserto mais triste,
aquele que eu não transponho,
é justamente o que existe
na ousadia do meu sonho!
Elisabeth Souza Cruz – RJ
-
Deus, garimpeiro maior,
vai, no seu mister profundo,
salvando o bom e o melhor
que há nos garimpos do mundo.
Flávio Stefani – RS
-
Chega a idade!... E eu já sem graça,
na ousadia dos meus planos,
finjo que o tempo não passa
e escondo os meus desenganos!
Francisco Garcia – RN
-
Tuas palavras magoam,
mas te perdoo, pois, enfim,
são abelhas que ferroam
mas que dão mel para mim.
Francisco Pessoa – CE
-
Sou tão triste e tão sozinha,
que o eco do meu lamento,
desta saudade tão minha,
escuto na voz do vento!
Gislaine Canales – SC
-
Diz-me esta ruga esculpida,
entalhe que o tempo fez,
que a primavera da vida
só nos floresce uma vez.
Jaime Pina da Silveira – SP
-
A fuga não leva a nada,
meu caminho eu sigo em frente.
Em toda e qualquer estrada
há um anjo guardando a gente.
Jaqueline Machado – RS
-
Vivem dois lobos em mim
– um do bem, outro cruento.
Lutam, brigam, mas, ao fim,
ganha aquele que alimento.
JB Xavier – SP
-
Quantas pedras removidas
e quantas por remover.
Provações em nossas vidas
que só nos fazem crescer!
JBX de Oliveira – SP
-
A direção recebida
do meu coração não sai:
Caminho, verdade e vida
para chegarmos ao Pai!
Jeanette De Cnop – PR
-
Bendito o irmão que na roça
puxa a enxada e planta o grão,
tirando da terra a nossa
diária alimentação.
Jorge Fregadolli – PR
-
O meu prêmio, ao fim do dia,
é um sorriso na janela
de onde os lábios da alegria
beijam os meus, antes dela!
Josafá Sobreira da Silva – RJ
-
“Por que trazes a Saudade
à casa que é tua e minha?"
E a Solidão: "Na verdade,
é medo de estar sozinha..."
José Fabiano – MG
________________
Ser mãe é ainda a maneira mais bonita de ser poeta.
__________________________
Quando nós somos crianças,
tantos sonhos são sonhados.
Hoje...adultos, são lembranças
daqueles tempos passados.
José Feldman – PR
-
Mamãe fazia a polenta,
papai pitava um cigarro...
Hoje a saudade é que esquenta
o velho fogão de barro!...
José Ouverney – SP
-
Ante os açoites da sorte
e as calúnias que enfrentei,
sinto que gritei mais forte
quando altivo me calei.
José Valdez – SP
-
Nas horas mortas da noite,
sem luar e bem-querer,
tua ausência é puro açoite
que duplica o meu sofrer.
Luiz Carlos Abritta – MG
-
És meu gênio predileto,
pois, sem lâmpada e magia,
meu desejo mais secreto
me concedes dia a dia.
Luzia Brisolla Fuim – SP
-
Feliz aquele que faz
crescer o bem em redor.
É alguém que semeia a paz,
tornando o mundo melhor.
Maria Luíza Walendowsky – SC
-
É o ventre materno o espaço
da semente em gestação,
onde Deus fez seu regaço
em amor à Criação!
Maria Conceição Fagundes – PR
-
Temendo teu abandono,
meu coração – velho avaro –
soma horas mortas de sono
a madrugadas em claro!...
Maria Madalena Ferreira – RJ
________________
Na trova, que é seu veleiro, / singrando temas diversos, / trovador
é marinheiro / que navega em quatro versos. (Thereza Costa Val)

__________________________
Com volúpia e desvario,
neste amor vou mergulhar...
Eu me sinto como o rio,
que se atira para o mar!
Maria Thereza Cavalheiro – SP
-
Tem gente que esconde o pranto;
sem razão, sente vergonha;
não sabe que o desencanto
é normal quando se sonha.
Mária Zamataro – PR
-
De meu pai, um grande espelho,
hoje velho, lembro ainda,
refugiado em seu conselho:
– Sê feliz, que a vida é linda!
Maurício Friedrich – PR
-
Sou mulher e sou guerreira,
lutando em busca de paz;
da vida sou passageira
que não desiste jamais.
Neiva Fernandes – RJ
-
O tudo que o mundo tem
não vale nem a metade
da metade de um vintém
de uma sincera amizade!
Nemésio Prata - CE
-
O amor, bem como a neblina,
sempre nos turva a visão:
vem do nada e, como sina,
deixa inquieto o coração.
Olga Agulhon – PR
-
Eu não lamento a saudade
que a tudo invade, porque
é tão bom sentir saudade,
quando a saudade é você!
Olympio Coutinho – MG
-
Minha mãe... como não ser
grato por tudo o que fez?
Pois ao me ensinar a ler,
me deu à luz... outra vez!
Pedro Melo – PR
-
Rompeste um antigo laço
contudo, mantenho aceso
este amor que não desfaço,
mas disfarço com desprezo.
Relva do Egypto – MG
___________________
Felizes os trovadores, / romancistas de quadrinhas, / que fazem
de seus amores / romances de quatro linhas. (Durval Mendonça)

__________________________
Prefiro ficar no sonho
a embarcar na realidade;
lá, meu mundo é mais risonho,
mais seguro e sem maldade!
Renato Alves – RJ
-
Com os retalhos dos panos
que sobravam da costura,
mamãe fez todos os planos
de minha vida madura..
Ronnaldo Andrade – SP
-
No embalo da serenata,
quisera ser como a lua
vestindo com tons de prata
os homens tristes da rua!
Selma Patti Spinelli – SP
-
Tudo pode acontecer
no encontro de duas almas.
Tua afeição dá prazer
e sei que só tu me acalmas.
Talita Batista – RJ
-
Velho é quem, preso ao cabresto
de paixão não assumida,
busca na idade um pretexto
para ausentar-se da vida.
Thalma Tavares – SP
-
A orquídea branca e violeta...
A foto quase sem cor...
Na pequenina gaveta,
os restos de um grande amor!
Therezinha Dieguez Brisolla – SP
-
Esquecida na lareira,
esta cinza sem calor
lembra a chama passageira
que incendiou nosso amor.
Vanda Alves da Silva – PR
-
Seu forte olhar, penetrante,
me acelera o coração.
O seu perfil, estonteante,
ofusca a minha visão!
Vânia Ennes – PR
-
O vinho ao pé da lareira,
teu carinho, teu calor...
Como não ser prisioneira
desses prazeres de amor?
Wanda de Paula Mourthé – MG
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